Acordando
lentamente, Nathan se vê sendo arrastado pelos soldados. Eles o levam por uma
espécie de templo, uma edificação ocupando um terraço inteiro de uma megatorre.
O rapaz vê pilares vermelhos e telhados pontudos com beirais curvos. Nas
paredes há dezenas de lanternas orientais com letras japonesas. Ele vê velas,
incensos e estátuas de um homem sentado de pernas cruzadas. “Será o Buda?”
pergunta-se ele.
Há algumas
pinturas exóticas pelo templo. Nathan vê tigres, carpas e dragões, sendo este
último um animal mitológico que aparentemente nunca existiu. Outras pinturas
chamam sua atenção,
Em alguns lugares
ele vê manequins vestindo as armaduras tradicionais japonesas. Algumas são altamente
tecnológicas – iguais àquelas que os soldados vestiam durante o ataque à 4 de
Julho – mas outras são mais tradicionais e parecem estar erigidas ali como um
sinal de honra e respeito. Nathan vê portais pelo templo, eles são retangulares
e têm vigas curvas. Há muitas palavras japonesas ali, mas outras estão escritas
em alfabeto romano e ele lê a palavra “Xinto”. Então ele percebe que aquelas
pessoas acreditavam no Xintoísmo.
As pessoas
naquele templo também têm aparência peculiar. As mulheres usam longos vestidos
e maquiagens pesadas em seus rostos. Os homens vestem roupas largas e alguns
portam aquelas espadas descritas nas pinturas. O rapaz nota que todos são
asiáticos, e todos o encaram com certo fascínio e desprezo.
Apesar do
admirável esforço em reproduzir um templo japonês na tecnológica metrópole,
Nathan não pode deixar de notar os painéis eletrônicos, hologramas e luzes de
neon espalhados pelo ambiente. Em Sonata a tecnologia é essencial e
onipresente, impossível de se evitar.
Os soldados se
aproximam de uma porta de madeira. Há duas sentinelas em suas extremidades,
elas seguram lanças com lâminas curvas e lenços amarrados em seus cabos. Os
soldados perguntam:
- Onde está o
Xogum?
Com forte sotaque
japonês, as sentinelas respondem:
- Ele está no
grande salão e os aguarda.
Afastando as
folhas da porta, as sentinelas permitem a passagem.
O rapaz vê o que
parece ser um julgamento. Vestindo armaduras e portando espadas, cerca de
cinquenta homens assistem à duas pessoas discutirem. Um deles está ajoelhado e
teve sua armadura arrancada, e o outro está em pé e o encara furiosamente. O
homem em pé tem bigode e barba pontuda, cabelos presos no topo da cabeça e
veste uma armadura mais nobre e requintada.
- Você foi
acusado de trair nosso povo e nossa nobre causa. Muitos dos nossos companheiros
morreram hoje por sua culpa. Você conspirou com o inimigo contra nós!
O homem ajoelhado
responde:
- Eu não os traí,
pois nunca compartilhei desta causa. Minha honra está intacta.
O homem em pé
parece ignorar sua resposta.
-
Somos o futuro de Sonata, a solução para o materialismo imoral das corporações.
Por que você nos traiu? Eu não consigo entender! Por favor, me diga o porquê.
- Você vive uma
ilusão, Yoshinobu. O xogunato e o império não podem voltar a existir. O que
deseja não passa de um simples sonho.
Os homens de
armadura se ofendem.
- Sua traição
envergonha a todos nós. Esta é sua chance de manter sua honra.
O homem em pé
desembainha sua espada, revelando a brilhante lâmina prateada. Vendo que sua
vida está próxima do fim, o homem ajoelhado empunha uma adaga e a posiciona
contra seu abdômen. Em tom profético, ele os amaldiçoa dizendo:
- Os samurais
estão condenados à extinção.
Então, em um
único esforço, o homem perfura a si mesmo. Em uma última demonstração de agonia,
ele empurra a adaga para o lado, cortando-se ainda mais. Vendo que sua dor é
insuportável, o homem em pé levanta sua espada e decepa sua cabeça,
decapitando-o.
Nathan está horrorizado.
A cabeça do homem cai de seu corpo, produzindo sons abafados contra o solo.
Sangue escorre pelo piso, formando uma poça vermelha horrível. O rapaz sente
náusea.
Os homens de
armadura arrastam o corpo pelas pernas e o levam dali. Os soldados levam Nathan
até a presença do líder e o jogam aos seus pés.
- Xogum Tokugawa,
nós conseguimos. Capturamos o Inimigo de Estado das mãos da 4 de Julho. A
missão foi um sucesso.
O rapaz vê que os
soldados permanecem curvados diante de seu líder. O xogum o encara e então
ordena:
- Levem-no para
baixo. Nós o interrogaremos depois.
Os soldados então
o levam de volta pelo templo. Enquanto avançam, o rapaz vê os demais soldados
gritando “Banzai” com grande animação. Alguns balançam enormes bandeiras em
seus braços, hasteando-as e louvando-as. Nathan observa a bandeira e vê um
radiante sol vermelho com um fundo branco. Eles estão felizes e celebram mais
uma vitória para a causa.
O rapaz desce por
um elevador panorâmico na lateral do edifício. Enquanto desce, ele vê dezenas
de neons com letras japonesas nos prédios. Ele reconhece o lugar, é algum
distrito no Setor J, talvez o Honshu ou o Monte Fuji.
Levando-o pelos
corredores, Nathan vê muitos enfeites orientais. Aparentemente aquele povo era muito
ligado às suas raízes e valorizavam seu lado cultural. Nas paredes há muitas
pinturas de tigres, dragões e guerreiros samurais. Em outras
paredes ele vê caricaturas mais alegres e divertidas, como bichos e pessoas com
olhos grandes e bocas pequenas. Talvez aquilo seja o mangá inventado pelos
japoneses séculos atrás.
A Bushido
redecorou os andares abaixo. Nathan vê paredes de madeira e folhas de algo que
se parece com papel. Ao deslizar as portas para o lado, ele vê pessoas
ajoelhadas ao redor de mesas baixas. Elas se alimentam palitos de madeira e
servem a comida em pequenas tigelas. A formidável habilidade em usar aqueles
pauzinhos gera grande fascínio em Nathan, que se pergunta como elas conseguem
manejar aquilo para comer.
O rapaz é deixado
em uma pequena sala por um dia inteiro. Nathan se assusta, pois sabe que o
vírus avança e diminui seu tempo de vida. Ele começa a aceitar que não vai
sobreviver.
No decorrer do
dia, algumas mulheres aparecem e lhe oferecem água e comida. Ele logo aceita,
Nathan estava faminto. Mas seu apetite é quebrado quando ele vê carne de peixe
crua, molhos escuros e aqueles pauzinhos incompreensíveis na bandeja.
A porta se abre e
ele vê um homem mais velho vestindo armadura vermelha. Nathan o reconhece, é o
mesmo que lhe falou pouco antes de alguém golpeá-lo.
- Kon'nichiwa,
Nathan-san. Sou o Kyaputen Yamada. Como tem passado?
- O que quer de
mim?
- Vim levá-lo ao
Conselho. O Xogum quer falar com você.
- Quem...? – pergunta
Nathan, mas sem resposta.
Yamada o leva
pelos corredores. Ao passar pelos soldados, eles estufam seus peitos e batem
continência. Então o rapaz percebe que o termo kyaputen significa capitão em
japonês.
A porta se abre e
Nathan vê um salão onde os samurais se reúnem. Há uma longa mesa baixa com
vários homens mais velhos ajoelhados ao seu redor. Alguns usam roupas longas e
largas, e outros vestem suas imponentes armaduras de samurai. No canto do salão
ele vê três mulheres com rostos pintados e cabelos presos no topo da cabeça.
Elas encantam o ambiente tocando instrumentos tradicionais japoneses.
- Sente-se,
Nathan-san. – Indica Yamada.
O rapaz olha para
o chão e não entende o que o kyaputen quis dizer. Não há cadeiras. “Você quer
que eu sente no chão?” pensa ele. Um pouco confuso o rapaz se ajoelha e se
senta sobre seus calcanhares, imitando os senhores ao seu redor.
O homem na ponta
da mesa diz:
- Kon'nichiwa,
Nathan-san. Sou o Xogum Tokugawa Yoshinobu. Estive ansioso em vê-lo.
Por quê? – pergunta
ele.
-
Não seja hipócrita. A 4 de Julho já deve ter te informado de sua importância. O
trabalhador das corporações tornado Inimigo de Estado... O que quer que tenha
visto no Setor L incomodou muito os senhores desta metrópole.
“Senhores desta
metrópole?”. O xogum fala como se toda a cidade fosse alguma nação feudal.
- Não foi minha
intenção...
- Já disse para
não ser hipócrita! – interrompe ele, fazendo inclusive as gueixas pararem de
tocar – Estamos em guerra, Nathan-san. Chegamos a um ponto onde a vitória final
não pode mais ser alcançada com o poder das armas. Precisamos de um poder ainda
maior. Algo mais sutil que destrua nosso inimigo e não cause tanto derramamento
de sangue. Precisamos de sua informação.
Nathan sente
medo. Terroristas violentos e altamente perigosos estão se matando para
conseguirem algo que só ele pode dar. Por que é tão importante? O que as
corporações estão escondendo e os terroristas sabem, mas não querem falar?
- Senhor
Tokugawa, peço que me entenda. Não quero ser responsável pela morte de milhões.
– responde educadamente Nathan, achando que o xogum será complacente.
- Morte de
milhões? – pergunta ele – Tokugawa se levanta e então todos se levantam, mas
com um aceno ele pede que todos voltem a se sentar. Sua autoridade é
incontestável – Você sabe por que a Bushido luta, Nathan-san?
- Não, senhor.
- Lutamos por
Honra, Ordem e Tradição. Está vendo estes senhores? Estes são meus
conselheiros, meus daimiôs, meus mais valorosos generais. Eu sou o Xogum
Tokugawa, nomeado conforme o último xogum japonês antes da Restauração Meiji.
Lutamos para que as vitórias no futuro corrijam os erros do passado.
Acreditamos que o imperialismo japonês foi desastroso para nosso país.
Acreditamos que a modernização da sociedade, a absorção dos costumes
estrangeiros e a competição com as potências ocidentais culminaram na ganância
de nossos líderes. A arrogância dos nossos governantes causaram a humilhação do
nosso povo, resultando, como você mesmo disse, na morte de milhões.
- Mas sua
organização quer o retorno do imperialismo, não é mesmo?
- Como eu disse,
queremos corrigir os erros do passado. O xogunato se mostrou um governo sólido
e capaz de manter a ordem após tantos séculos de guerra. O imperialismo
destruiu o que os honoráveis xoguns construíram, nos trazendo guerra, desonra e
derrota. O Ocidente deixou nosso país submisso e enfraquecido, enquanto que
nossos antigos inimigos cresceram e se fortaleceram. Nossa nação, uma vez forte
e vitoriosa, foi desarmada e humilhada por seus vencedores. O estigma da derrota foi por muito tempo carregado por nosso povo. Mas
após nossa inevitável vitória, meus daimiôs serão intitulados xoguns e
governarão cada setor de Sonata. Todos obedecerão a um único imperador, um
homem visionário capaz de enxergar os erros do antigo império e batalhar para a
construção de um novo.
- E quem será
esse homem?
Nathan não se
impressiona com a resposta.
- Eu.
O rapaz percebe
que duas facções terroristas são lideradas por loucos e saudosistas.
- O senhor quer
tratar Sonata como uma antiga nação feudal?
- O feudalismo é
um sistema rural ultrapassado. A nova Sonata será uma megalópole pacífica e
tecnológica. Nossos cientistas são os mais brilhantes e inteligentes, o legado
tecnológico de meu povo ainda sobrevive. – diz ele, apontando para alguns
aparatos tecnológicos espalhados pela sala – A memória do antigo Japão jamais
será esquecida, ela será fortalecida nas novas gerações que virão.
A Bushido
divide-se entre a tradição dos bushi e a modernidade do capitalismo.
- E o senhor acha
que a população aceitará um povo “distinto” governando sobre suas vidas? – pergunta
ele, referindo-se à aparência japonesa.
- Você pensa que
o Setor J é composto unicamente de japoneses? Antes de 2057, nosso povo imigrou
em massa do Japão para sobreviver. Éramos minoria nesse país, mas com a
construção da metrópole nossa organização cresceu e acolheu a todos os
asiáticos, japoneses ou não. Prometemos dividir o poder com todo aquele que
luta por nossa causa. Ao nosso lado lutam pessoas de várias outras etnias, mas
um soldado não-japonês é chamado de samurai Ronin, pois este não tem
legitimidade no sangue e nem um daimiô.
Nathan percebe
certa discriminação nas palavras do xogum. Após a Segunda Guerra Mundial, os
povos asiáticos passaram a odiar os japoneses durante anos. Então ele faz uma
pergunta semelhante à que fez ao líder da 4 de Julho:
- Mas sua
organização aceita os não-asiáticos?
- Bushido não é
uma simples organização, é um estilo de vida, um código de honra e logo será a
lei universal de toda Sonata. Todos são bem-vindos se assim o desejarem. Nós
seguimos as sete virtudes da Bushido. GI: justiça, moralidade, atitude direta,
razão correta e decidir sem hesitar; YUU: coragem e bravura heroica; JIN: compaixão
e benevolência; REI: polidez, cortesia e amabilidade; MAKOTO: sinceridade e
veracidade total; MEYO: honra e glória; e CHUU: dever e lealdade.
Somos samurais, merecemos governar a metrópole, e quando governarmos, nossa
honra e lealdade serão notórias a todos.
Então Nathan se
lembra de algo que o enraivece.
- Como pode falar
em honra se ontem mesmo vi o senhor decapitar um homem de joelhos?
Ao ouvi-lo, os
daimiôs de Tokugawa se ofendem, insultando-o. O xogum, porém, pede para eles se
calarem.
- Aquele homem
era um traidor e merecia ser punido. De acordo com nossos costumes, é desonroso
para um samurai capturado não ser morto pelas próprias mãos. A decapitação é um
sinal de misericórdia do captor, pois a prática do harakiri é dolorosa e
agonizante. É desta forma que realizamos o ritual do seppuku.
- Pois para mim isso
se chama assassinato, e assassinato terroristas como vocês conhecem bem. Não
farei parte disso.
Nathan se levanta
e lhes dá as costas. Mas antes que pudesse chegar à porta, Yamada desembainha
sua espada e a aponta para seu pescoço.
- Creio que você
não tem escolha. – diz Yamada.
- Nós
empreendemos um ataque meticuloso e ousado para captura-lo. A 4 de Julho jamais
irá esquecer. Agora você pensa que poderá simplesmente dar as costas e ir
embora se assim o desejar?
Yamada o ameaça
dizendo:
- Sugiro que se
sente, senão eu pessoalmente cortarei sua cabeça e a guardarei como troféu. E o
resto de seu corpo eu darei de alimento para os cães.
Apesar de velho,
o kyaputen tem uma voz grave e rouca capaz de assustar o mais valente dos homens.
Nathan olha para sua espada e a vê perfeitamente afiada, e então imagina
quantos homens ele já matou com ela. Yamada é um legítimo guerreiro samurai,
ele provou seu valor comandando a ousada missão de invadir a 4 de Julho e
capturar o rapaz. Apesar do profundo temor, o rapaz o admira.
Mas e quanto à
Bushido? Ela era mais uma organização terrorista e xenofóbica como a 4 de
Julho. Se um dia eles conquistarem o poder, tratariam eles os não-asiáticos
como cidadãos de segunda classe, como a 4 de Julho faria em relação aos não-americanos?
A Bushido, apesar das palavras bonitas e condutas honrosas, não lutava pela
libertação dos sonatenses, eles lutavam por outra opressão: a ditadura militar
dos xogunatos e do imperador.
Nathan novamente
se senta. Com a lâmina da espada a um centímetro de seu pescoço, o rapaz treme,
batendo a ponta de seus dedos rapidamente sobre a mesa.
Suor desliza de seu
rosto. O rapaz está tão assustado que parece que seu coração vai sair por sua
boca. Olhando ao redor, ele não vê outra forma de sair dali senão cooperando
com inabalável xogum. Não havia outra opção.
Ao abrir sua boca,
um objeto esférico rola sobre a mesa e gás se expele de seus orifícios. Confusos,
os daimiôs se entreolham, e então Tokugawa grita:
- Gás!
Mas o alerta veio
tarde. O gás se rapidamente se alastra e todos começam a tossir, perdendo a
consciência em seguida. Yamada leva suas mãos à boca, largando sua espada.
Nathan tenta conter o efeito do gás segurando sua respiração, e então ele
consegue ver.
Um dos daimiôs se
levanta. Ele está vestido em sua armadura samurai com o rosto coberto com
aquela máscara horrível. O daimiô se aproxima de Nathan, retira um objeto de
sua bolsa e diz:
- Ponha isto.
O rapaz vê uma
máscara de gás. Vestindo-a rapidamente, o daimiô o levanta e o conduz para fora
do salão. Enquanto é carregado para fora, alguém puxa o braço do homem e
arranca sua máscara, revelando sua identidade. É Maynard!
- Maldito! Como
ousa invadir nossa sede e templo sagrado? Meus samurais o farão em pedaços!
Tokugawa luta
para não perder a consciência e o encara furiosamente. Enquanto o xogum sucumbe
ao efeito do gás, o agente aproveita para lhe responder:
- Os samurais
estão condenados à extinção.
Então Maynard lhe
dá um soco no rosto, fazendo-o se soltar. O agente veste novamente seu capacete
e continua seu caminho.
Conduzindo o
rapaz pela sede da Bushido, os samurais olham para o agente disfarçado e se
curvam. Aparentemente eles reconhecem a armadura pessoal de seus daimiôs.
Ao chegar ao
elevador, um samurai os interrompe e começa a lhe falar palavras
incompreensíveis em japonês. Maynard não sabe o que responder e isso intriga o
samurai à sua frente. O agente gesticula pedindo para ele se afastar, mas o
samurai fala ainda mais, como se estivesse perguntando-o algo. Esticando seu
braço para o botão do elevador, o agente intenciona pressioná-lo, mas o samurai
o interrompe, apertando para ele em seguida. Aparentemente ele queria apenas
fazer uma gentileza. O elevador se abre e então o agente cinicamente diz:
- Arigatou
gozaimasu.
O
samurai não reconhece a voz de seu senhor e o estranha. Mas antes que pudesse
dizer algo, a porta se fecha e eles vão embora.
- Maynard! Você
veio me salvar! – comemora o rapaz.
Sem dar muita
importância às suas palavras, o agente responde:
- É, pode-se
dizer que sim. Agora fique em silêncio.
Eles chegam ao
terraço onde o templo se encontra. Atravessando os suntuosos salões, alguns
samurais os veem e fazem suas reverências. Ao chegar ao estacionamento, dois
samurais guardam sua entrada.
- Daimiô
Kumamoto, é uma honra recebê-lo. Deseja um aerocarro?
Felizmente os
dois falam inglês. O agente acena positivamente com a cabeça e continua
caminhando. Mas o outro samurai o interrompe dizendo:
- Não quer que eu
chame um motorista?
- Isso não será
necessário.
Então os dois
guardas se intrigam. Os daimiôs nunca saem sem motoristas. E aquela voz, eles
não reconhecem a voz daquele homem.
- Espere um
pouco. Quem é você, afinal? E aonde vai com o prisioneiro?
Um silêncio
perigoso paira entre eles. Maynard se prepara para sacar sua arma debaixo da
armadura quando algo acontece. O alarme soa pelo templo e uma voz fala pelo
alto-falante:
“Alerta! Há um
agente infiltrado no templo e ele está com o prisioneiro. Não o deixem fugir!”
Então Maynard
saca sua arma e atira. Os samurais se protegem atrás dos aerocarros e começam a
atirar também. Nathan corre pelo estacionamento e então o agente ordena para
que ele vá até seu aerocarro. O rapaz olha para trás e tropeça no exato momento
quando três shurikens voam contra seu rosto, perfurando as paredes logo atrás.
- Meu Deus!
- Corra, Nathan!
Corra!
Maynard o agarra
pela camisa e o puxa consigo. Chegando ao aerocarro, o agente grita:
- Computador,
abra as portas! Agora!
“Comando de voz
não identificado”.
O rapaz ouve a
voz robótica várias vezes enquanto o agente atira nos samurais. Ele ordena
constantemente para que o aerocarro se abra, mas sem sucesso.
Passos são
ouvidos, fazendo o chão tremer. Assustados, os dois se entreolham. Ao espiarem
sobre o capô, eles veem dois samurais gigantes se aproximarem. Eles têm armas
acopladas aos seus braços esquerdos e seguram uma espada enorme em seus braços
direitos, capaz de partir ao meio um aerocarro inteiro. Seus
olhos brilham em uma cor vermelha forte, e sua armadura é escura como a face
inclemente da morte.
Desta vez, é
Maynard quem diz:
- Meu Deus...!
- São robôs...? –
pergunta-se Nathan.
As enormes
máquinas apontam suas armas e atiram. O projétil é uma mini granada que explode
os aerocarros ao redor, levantando uma onda de fogo infernal. Maynard tenta
arduamente fazer seu aerocarro abrir, mais uma granada daquelas e os dois viram
churrasco.
- Maynard! A
máscara! Tire sua máscara!
Então o agente
percebe seu erro. A máscara estava abafando sua voz, tornando a identificação
impossível. Ao ordenar mais uma vez, o aerocarro se abre e os dois rapidamente
entram. Apertando os botões, o painel se ilumina e o veículo lentamente levanta
voo. Maynard ordena:
- Computador,
disparar canhões.
Imagens se formam
no para-brisa e miram os gigantescos robôs da Bushido. Os tiros são disparados
e explodem em seus peitos, fazendo os robôs hesitarem e cambalearem para trás.
A fumaça se dissipa, mas Nathan vê que eles ainda estão em pé, novamente
mirando suas armas para os dois.
- Eles vão
atirar!
- Computador,
disparar bombas eletromagnéticas.
Os projéteis EMP
atingem os robôs. Uma descarga elétrica e azulada os envolve, paralisando-os.
- Isso nos dará
tempo para fugir. – comenta ele.
Então o aerocarro
de Maynard ganha a altitude necessária e deixa o templo da Bushido, voando em
meio a centenas de tiros lasers pela noite.
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