O aerocarro de
Maynard tem muitos segredos. A Inteligência Artificial do aerocarro é como um
copiloto que o mantém informado constantemente sobre o ambiente ao redor. As
vias virtuais aparecem no para-brisa junto com informações de espionagem. Elas
exibem dados confidenciais sobre os condutores próximos, transporte de substâncias ilícitas, detecção de viaturas
policiais e rotas alternativas para fuga. A polícia passa várias vezes por
perto, mas são incapazes de detectá-los naquele enxame de aerocarros em Sonata.
- Eu não
entendo... – diz o agente – Os noticiários não mencionaram seu nome, nenhuma
Lei Marcial foi instaurada e não vejo nenhum Securitron rondando as
passarelas.
- Isso pode ser
bom. Assim poderei fugir para a superfície. – responde Nathan.
- Você sabe que
agora é um Inimigo de Estado, não é? Se você falar o que sabe para as pessoas
certas, poderá causar uma insurreição.
“Inimigo de Estado?”
pensa Nathan. “É assim que me chamam agora”?
- Ninguém se
voltaria contra as corporações. – responde ele, ingenuamente.
O mercenário ri.
- Faz ideia de
quantos fanáticos extremistas existem só esperando o momento certo para se
rebelar?
Eles
seguem seu caminho. Maynard pega uma avenida virtual de duas faixas para um dos
distritos residenciais do Setor A.
No Setor A ainda
predomina o clima de expansão da cidade. As máquinas de construção e os
operários humanos e robóticos estão presentes, sendo eles os responsáveis por sua
construção.
O aerocarro se
aproxima de um distrito chamado Mecanicistas, sobrevoando as colossais obras de
expansão financiadas pela Electro Core. O aerocarro mergulha entre as torres e
passarelas até Maynard parar em um estacionamento no meio de uma megatorre.
Eles desembarcam
e encontram um lugar úmido e cinzento. Enormes hélices acopladas nas paredes
renovam o ar e fossos de luz iluminam timidamente o ambiente. Naquela hora do
dia tudo parecia silencioso e abandonado, as passarelas estavam vazias, as
luzes dos corredores piscavam e os elevadores pareciam não serem usados há
anos. Ao descerem por um lance de escadas, Nathan toca o corrimão e o vê
enferrujado. E pensar que aquele era um dos distritos mais recentes de Sonata.
Alguém aparece
entre os aerocarros e grita:
- Parados!
Os dois veem um
homem apontar um fuzil laser a eles. O homem veste uma farda bege com camuflado
digital. Em seus pés eles veem coturnos cor de areia e em sua cabeça há um capacete com viseira. Em seu ombro há uma bandeira de cores vermelha, azul e
branca que Nathan não consegue reconhecer. Atrás deles vários outros homens
armados aparecem, cercando-os.
- Abaixem as
armas! Eu sou o agente Maynard Cuisset, vim trazer o pacote!
“Pacote?”
pergunta-se o rapaz.
Ao abaixarem seus
fuzis, o homem à frente diz:
- Está atrasado.
Era para você ter chegado ontem.
- Tive
contratempos. – responde ele, de improviso.
Em seguida eles
os deixam passar. Nathan os observa, aquela era uma milícia paramilitar
composta de soldados fanáticos com um manifesto político. Entrando em um andar da megatorre, eles o encontram adornado inteiramente de bandeiras,
cartazes, frases de ordem e citações históricas escritas nas paredes. Todos os
apartamentos têm suas portas abertas e servem de compartimentos naquele
grotesco Quartel-General. Os soldados, “políticos” e simpatizantes
andam calmamente pelos corredores. Eles andam com fuzis nas costas, pistolas
nos coldres, pastas nos braços e arquivos em suas mãos.
Nathan então
reconhece a bandeira, a bandeira do velho país agora levemente alterada à nova
causa dos pseudo revolucionários americanos. As bandeiras estão em toda parte e
algumas contém um símbolo, uma espécie de brasão. Ele vê uma águia careca de
asas abertas segurando um ramo e um punhado de lanças nas patas. Em seu bico há
uma faixa com uma frase escrito “E Pluribus Unum”, mas ele não sabe o que significa.
Eles entram em um
apartamento abarrotado de servidores. Os técnicos usam computadores com cabos
conectados aos seus crânios e óculos de realidade virtual para navegar no
ciberespaço. “São hackers” pensa ele. Um homem vestido com farda militar um
pouco mais requintada observa atentamente as informações aparecerem nos
monitores de LCD. Ele não é diferente da maioria dos cidadãos de Sonata, pois tem
próteses biomecânicas, visão aprimorada, implantes no crânio e com certeza uma
dezena de implantes ilegais espalhados no corpo.
- Estou
atrapalhando? – pergunta Maynard.
O homem se vira
e, ao vê-los, responde:
- Está atrasado.
O agente sorri e
o cumprimenta.
- Olá, George. Eu
trouxe o pacote, como prometido.
O líder do 4 de
Julho é um homem sério e objetivo. Ele olha para Nathan em silêncio, como se
estivesse analisando-o e isso deixa o rapaz muito desconfortável. George então os
leva para um apartamento com uma grande mesa de reunião no centro.
Ao fechar a porta retrátil, ele diz:
Ao fechar a porta retrátil, ele diz:
- Nathan, você é
bem famoso, sabia? Esta cidade tem milhões de habitantes, muito maior do que
qualquer outra antes de 2057, mas você foi um entre milhões... – comenta ele,
dando ênfase às suas palavras – que viu o que existe fora da Contenção. E você
ainda está vivo, diferente de muitos outros que morreram ao sair. Estou
impressionado.
O rapaz olha ao
redor e gagueja um pouco antes de responder.
- Não foi minha
intenção destruir minha vida. Eu não quis nada disso.
- O seu arquivo
no Ministério da Informação diz o contrário. Você é filho de criminosos políticos
e potencial agitador também.
- Eu sou
inocente, é isso o que importa.
- De acordo com o
Ministério da Segurança Pública, em Sonata existem três tipos de punição: Detenção,
Execução e Banimento. A Detenção tem caráter “filantrópico” e procura recuperar
o indivíduo, livrando-o de sua criminalidade; a Execução é uma ferramenta
reguladora, pois além de punitiva busca eliminar os criminosos violentos,
diminuindo convenientemente a superpopulação da metrópole; o Banimento é a
sentença final, a estrela da opressão corporativa, quase um mito entre os
cidadãos que vivem sob a sombra desse terror. É o castigo dado principalmente
aos presos políticos, ativistas, agitadores e terroristas, qualquer um que
espalhe uma causa ideológica que resista, combata ou despreze a ditadura
corporativa. Infelizmente para você, Nathan, você seria banido de Sonata, pois
com seu histórico pessoal e familiar, você seria classificado como um terrorista.
Nathan sente
calafrio. Naquele momento ele percebe que é mais perigoso do que uma
organização terrorista inteira.
Ele responde:
- Já me chamaram
de Inimigo de Estado uma vez, mas não sou eu o terrorista aqui.
- Certamente. – responde
calmamente o homem – Mas você fugiu de uma penitenciária, foi visto com um
mercenário e hoje está no QG de uma organização que propaga o terror. Quem
acreditaria em sua inocência agora?
Então o rapaz se
cala. George o tem em suas mãos.
- O que você quer
comigo?
- Informação. – responde
ele, como se fosse a coisa mais óbvia – O que pode ser tão importante para
fazer as corporações prenderem-no simplesmente por caminhar nas ruínas?
- Não estou
disposto a dar informações a um grupo terrorista.
- Oh, terrorista
é uma palavra muito forte... – sorri ele – Somos ativistas, revolucionários,
libertadores... Lutamos pela soberania americana na metrópole e a deposição do
regime autoritário e fascista das corporações. Somos constitucionalistas,
lutamos pela liberdade e independência, assim como nossos antepassados o
fizeram nos anos de 1775 a 1783.
Sem querer
admitir, Nathan demonstra interesse.
- Essa
organização tem origens históricas?
- Mas é claro. E
suas origens são mais antigas do que você pensa.
“A
Revolução Americana foi a rebelião das treze colônias da Grã-Bretanha, que declararam-se
independentes em 1776, passando a se chamar de Estados Unidos da América. A
guerra teve origem na resistência de muitos americanos contra os altos impostos
sancionados pelo Parlamento britânico, dos quais os americanos afirmavam ser
inconstitucional. Protestos patrióticos surgiram, desde boicotes a ataques a
barcos ingleses em Boston. Os ingleses contra-atacaram e os patriotas responderam
criando um governo ilegítimo na província de Massachusetts. As outras doze
colônias apoiaram o levante e juntas criaram um Congresso Continental,
coordenando a resistência, organizando comitês e convenções que efetivamente
tomaram o poder dos ingleses. Após uma série de batalhas e eventos, grandes
nomes surgiram na História dos Estados Unidos, como o general George
Washington, responsável pela vitória em Boston em março de 1776. E foi nesse
ano que foi assinada a famosa Declaração de Independência no dia 4 de Julho,
tornando-se a maior comemoração patriótica dos Estados Unidos”.
George fala com
tremenda convicção e domínio, como se fosse um apaixonado professor.
Nathan pergunta:
- Mas o que
aconteceu depois? O que houve com os Estados Unidos e seu governo?
- Não sabemos. –
lamenta-se ele – Muito pouco foi descoberto sobre o período antes da catástrofe
que devastou o planeta. Pandemias globais, incidentes diplomáticos, guerra
nuclear... Muitas são as teorias, é difícil dizer. O que se sabe é que os
Estados Unidos entraram em colapso e simplesmente deixaram de existir.
Como toda
conversa que Nathan vem ouvindo nos últimos dias, ele acha isso muito difícil
de acreditar.
- A nação
americana entrou em colapso devido a uma crise global?
- Não apenas os
Estados Unidos, mas muitos países também. O quadro territorial político foi
alterado e nunca mais se recuperou. Infelizmente não sabemos explicar por que
isso aconteceu, mas o mundo se fragmentava muito antes da Catástrofe de 2057.
Há muitos mistérios envolvidos e só as corporações conhecem esse segredo.
Mais uma vez
Nathan se convence de que há uma conspiração em Sonata.
- Por que vocês
querem o retorno de uma nação decaída e condenada ao passado?
George e os
outros ativistas se ofendem gravemente.
- Nossa
organização é um movimento separatista destinada a restaurar o poder. – responde
ele, quase rosnando – Nosso povo foi responsável pela consolidação do Ocidente,
nossa nação venceu os regimes totalitários europeus e
liderou a OTAN. A liberdade e a paz por muito tempo foram mantidas à custa do
nosso sangue! E iremos devolver a soberania da metrópole a nós, os verdadeiros
americanos!
O rapaz fica em
silêncio por um tempo até perguntar:
- Sua organização
não se importa que em sua onda de violência separatista muitos inocentes podem
morrer?
- Não será nada
comparado aos milhões de americanos que morreram em combate enquanto levavam
paz às terras estrangeiras. O que fazemos aqui é recuperar o que é nosso por
direito. Tiraremos o poder das corporações e o entregaremos aos únicos
merecedores de governar a metrópole, a 4 de Julho.
O que o rapaz
ouve são as palavras de um futuro ditador.
- E quanto aos
não-americanos? – pergunta ele – Quero dizer nós, de descendência canadense,
teremos lugar em seu governo pró-América?
George faz um
sorriso irônico. Ao invés de responder à sua pergunta, ele muda de assunto.
- Preste atenção,
o que você ouviu aqui não ensinam nas escolas sonatenses. Essa metrópole será
nossa, nossos pais fundadores nos confiaram essa tarefa. Que minhas palavras te
sirvam de inspiração e lhe mostrem o caminho quando a luz da verdade
resplandecer em sua vida.
Então o homem se
vira e começa a conversar com Maynard.
Nathan conhece a
verdade obscura. Ele sabe do plano sinistro que transformou as ruínas do velho
país em um pátio industrial e seus indefesos habitantes em cobaias de
laboratório. O dilema surge em sua mente. Deveria ele confiar nos terroristas revelando-lhes a verdade, ou manteria ele o regime corporativo intacto,
consolidando-os no poder?
George se senta à
mesa e então diz:
- Nathan, diga-me
detalhadamente o que aconteceu no Setor L.
- Eu direi com
uma condição. Por que esta informação é tão importante? O que vão fazer com ela?
O homem respira fundo, o rapaz é muito questionador.
- Usaremos a
informação para abalarmos o controle que as corporações detêm. Revelaremos a
verdade, traremos à luz seus segredos. Vamos difundir a notícia de que não
estamos sozinhos no mundo. As massas irão se revoltar, elas questionarão o
governo autoritário que as manipulam. Haverá protestos, manifestações,
greves, rebeliões... A desestabilização irá enfraquecê-los.
- Isso me parece
mais prejudicial do que bom. Que proveito você tiraria disso?
- Com os meios de
produção parados, as bases do sistema corporativo irão cair. Sua informação
será o pontapé inicial da Revolução, ela causará a greve geral, necessária para
iniciarmos a luta armada e tomarmos o poder.
Nathan se
assusta. Sua informação é mais valiosa do que pensa.
- E se
hipoteticamente vocês tomarem o poder, o que será depois?
- Instauraremos
uma República Federativa Constitucional Presidencialista, pacífica e
democrática, alinhada aos ideais iluministas de sua origem: Liberdade,
Igualdade e Fraternidade. Criaremos uma nova Constituição, os ministérios
trabalharão em defesa do povo, e não contra ele. Será o triunfo máximo dos
revolucionários e um novo começo... para os americanos.
O líder da 4 de
Julho tem domínio total do assunto e fala com muita clareza, de modo admirável.
Mas novamente ele discrimina o resto dos habitantes de Sonata em prol de seu
próprio povo. Nathan percebe que ele não está sendo honesto.
O rapaz não se
convence. Não é possível confiar seu conhecimento a um bando de fanáticos e
terroristas. Porém, ele tem uma dívida de gratidão com a 4 de Julho, afinal eles
os salvaram da prisão.
- Me esqueci de mais
uma coisa. – diz Nathan e imediatamente os facciosos lhe fazem um olhar de irritação
e tédio – Eu estou doente. Nas ruínas eu fui infectado por um vírus...
- Vírus? –
pergunta o líder e então Maynard diz:
- Ele alega ter
sido infectado por um vírus e agora tem poucas horas de vida.
- É contagioso?
O mercenário olha
para Nathan, esperando ele responder.
- Eu não sei. Preciso
encontrar um homem chamado Database. Ele vive na superfície e é o único que
pode me curar.
Os ativistas se
entreolham.
- Database...?
- Sim. Quero
que me prometam me levar até ele, e então eu direi tudo o que sei.
Falando de
maneira austera, o líder responde:
- Você tem a
nossa palavra de que o ajudaremos a encontrar a cura.
Eles então ficam
em silêncio. Nathan não confia em George, mas não há mais
tempo para decidir. Os olhos estão fixos em Nathan e ele pondera rapidamente na
forma de como vai mentir. Ele responde:
- Está bem, eu
digo o que sei.
Contra sua
vontade, Nathan organiza seus pensamentos e se prepara para descrever como tudo
começou. George, seus assessores e até o agente Maynard se silenciam para ouvir
o que ele tem a dizer. Então algo
acontece.
O alarme soa de
repente. Ao ouvirem o alvoroço se formar nos corredores, um dos ativistas
aparece e informa:
- General
Washington, a polícia invadiu nosso perímetro! Precisamos da camuflagem agora!
Então Nathan se assombra. O líder da 4 de Julho, o mesmo que expressa seus ideais com convicção e fanatismo, denomina a si mesmo como “General George Washington”?
Então Nathan se assombra. O líder da 4 de Julho, o mesmo que expressa seus ideais com convicção e fanatismo, denomina a si mesmo como “General George Washington”?
- O quê?! Como
eles nos acharam? Nunca deixamos rastros! – o líder chama o agente e diz
- Maynard, me
acompanhe, posso precisar de ajuda.
Os dois saem da
sala e deixam Nathan sozinho. Com a porta fechada, ele ouve os alarmes e a
correria no corredor. O rapaz espia pela janela, tentando ver o que está
acontecendo lá fora, mas só vê a escuridão e o vapor exalando dos dutos. Ele está em um verdadeiro covil terrorista.
George retorna à
sala com Maynard e mais dois hackers.
- Isto é
sabotagem! Abaixaram nossas defesas e nos deixaram expostos!
- Mas quem faria
isso? – pergunta Maynard.
- Eu não sei.
Talvez os Puristas, os Trans-humanistas ou os Clérigos do Recomeço. Temos
muitos inimigos, todos disputamos o poder. – responde o general.
- Devemos
encerrar essa guerra ideológica agora se quisermos atacar abertamente as
corporações. – comenta um hacker.
- Eles nos atacam
jogando o inimigo mútuo contra nós. Obviamente hackearam nossos dispositivos,
mas como conseguiram passar pelos firewalls? Nossos hackers os programaram para
serem intransponíveis! Quem teria tamanha tecnologia?
Enquanto os
ativistas discutem, explosões são ouvidas ao longo do andar e a luz avermelhada
da Polícia invade a sala.
- Eles estão
aqui! Defendam a base! Evacuem o equipamento! Agora!
- Espere um
pouco... – interrompe um ativista – Eles não são a Polícia! Esse vermelho... É
a Bushido!
O rapaz se
assusta. Esse nome refere-se a outra facção terrorista, porém composta de
asiáticos, sobretudo japoneses. Semelhante a 4 de Julho, essa facção também
acredita no ressurgimento de seus antigos governos. Mas a Bushido rivaliza
diretamente com a 4 de Julho, pois quer a metrópole sob o domínio do
imperialismo japonês.
Tiros são
ouvidos, aparentemente os invasores possuem armas lasers. De repente há uma
explosão e a janela voa em milhares de pedaços, lançando Nathan e os outros contra
a parede. A luz se apaga e Nathan consegue ver as miras lasers riscando a
escuridão e a fumaça. Então soldados com armaduras enormes e óculos de visão
noturna aparecem, descendo a lateral do prédio pendurados em cordas.
Os ativistas se
assustam. Antes dos invasores apertarem o gatilho, George tomba a mesa e a usa
como cobertura.
- Corram! – grita
ele.
Os soldados da 4
de Julho aparecem e trocam tiros com os invasores. Alguém lança uma granada e a
explosão os atira para longe, fazendo-os cair no enorme fosso entre
as megatorres.
Apavorado,
Nathan se arrasta para fora do apartamento. Ao sair ele vê a confusão no
corredor, as luzes dos alarmes giram freneticamente e a sirene alta irrita seus
ouvidos. Os ativistas correm de um lado ao outro com armas nas mãos. Nathan
apoia-se na parede e, ao tossir, sua boca espirra sangue.
Caminhando
lentamente pelo andar, ele se aproxima de outro apartamento quando a porta se
explode de repente. Continuando a caminhada, outro apartamento se abre e ele vê
pessoas em chamas correndo por socorro. Mais adiante, um
ativista é lançado para fora de um apartamento, colidindo contra a parede do corredor.
Nathan consegue
ver os soldados de elite da 4 de Julho. Eles vestem as fardas camufladas para
deserto, usam botas cor de areia e coletes a prova de balas. Também usam bolsas
d’água nos braços, óculos de proteção, bolsas de perna, fuzis lasers, granadas
penduradas em seus peitos, capacetes robustos e muito mais. Aqueles homens
realmente estavam preparados para a guerra.
- Abaixem-se! – grita
alguém atrás dele.
Virando-se para
ver o que está havendo, ele vê um foguete brilhante aproximar-se de suas
costas. Lançando-se rapidamente ao chão, o foguete continua seu trajeto e
explode em algum lugar adiante. Nathan não teve seu corpo despedaçado por um triz. As
chamas se alastram, os sprinklers espirram água e logo o ambiente torna-se um
misto de fogo, água, fumaça e suor.
O rapaz se senta
no chão. Os tiros atravessam as paredes e o revestimento suja sua cabeça. Não
havia tempo para descansar, ele tinha de fugir dali imediatamente.
Passando por um
apartamento, ele vê ativistas atirando em um grupo de soldados vestidos de
vermelho. Nathan sente medo, os invasores usam máscaras de demônios!
Outro apartamento
está totalmente destruído e há vários mortos no chão. A mobília retrátil
move-se de um lado ao outro, soltando faíscas durante o mal funcionamento. Um
buraco na parede revela uma escadaria no cômodo ao lado. E então algo acontece.
A janela do
apartamento se explode de repente, lançando Nathan para trás. Vozes são
ouvidas entre a fumaça, mas a audição é muito difícil devido a explosão. Alguém
se aproxima pelos estilhaços espalhados pelo piso, com passos determinados até se depararem com ele. E então Nathan consegue ver.
Uma
mulher está em pé à sua frente. Ela veste roupas apertadas e pretas, suas botas
vão até os joelhos e em seu peito há um rolo de corda. Mas algo lhe chama a atenção,
ela veste uma inconfundível máscara ninja, ocultando seu rosto.
“Uma runner...?”
pensa ele.
Aparentando ter
dificuldade ao enxergar, ela retira a máscara e chacoalha os cabelos. Nathan se
encanta, eles são dourados como os raios de sol. A mulher o
encara, seu olhar é frio e insensível, mas Nathan não se importa. A expressão do
rapaz é de puro assombro. Sem dizer uma única palavra, ele apenas pensa. Nathan
está diante da mulher mais linda que ele já viu.
Alguém grita da janela:
- Laura! Ele está
aí? Você já o pegou?
O rapaz sente seu
coração disparar. Ele não sente medo, apenas o agradável sentimento de amor
crescer em seu peito descontroladamente. A mulher hesita ao responder. Olhando
o rapaz ferido e assustado aos seus pés, ela não entende como pode haver
carinho em seus olhos. Então Nathan percebe. Ela sentiu o mesmo por ele também.
Por fim a mulher
responde:
- Não... não há
ninguém. Ele não está aqui.
Virando-se, ela
caminha de volta à janela e vai embora. Mas antes que pudesse sair, Nathan reúne suas forças e a
chama:
- Laura...!
A mulher o ouve e
olha para trás. Uma nova onda de fumaça se ergue e, quando a visão fica nítida
novamente, ela havia desaparecido.
Novamente se esforçando, o rapaz tenta se aproximar da janela quando alguém diz:
- O que você está
fazendo? Temos que fugir daqui!
Um ativista da 4
de Julho o agarra pela roupa e o leva para o buraco na parede. Nathan o
atravessa, mas antes que seu companheiro pudesse acompanha-lo ele é alvejado
por vários tiros lasers nas costas.
Ainda confuso,
ele sobe as escadas, deixando aquele banho de sangue para trás. Muitas pessoas
correm ali também, mas são simples residentes da megatorre. Nathan se
entristece. O fanatismo dos terroristas não se importa com os inocentes mortos
no fogo cruzado.
Entrando em outro
andar, ele vê a porta do elevador se abrindo. Dezenas de pessoas desesperadas
veem o elevador e correm em sua direção. Rapidamente o rapaz aperta os botões e
as portas se fecham, livrando-o daquela multidão.
O elevador sobe
até chegar ao terraço. Ao abrir as portas, ele sente o vento frio da noite e se
abraça. Correndo ao ar livre, ele passa por alguns aerocarros estacionados e
dutos de ventilação. Não havia polícia, moradores ou
transeuntes ali, não havia ninguém. Ele ergue a cabeça e vê o horizonte
brilhante da metrópole. “O que é que está havendo?” pensa ele.
Ao passar por uma
parede, a cauda de um rifle acerta seu rosto e ele cai no chão. A visão é
confusa, mas ele consegue ver. Soldados permanecem ao seu redor e o encaram.
Eles vestem horrendas armaduras vermelhas e capacetes com máscaras. As máscaras
fazem carrancas horríveis como se fossem seres demoníacos. Ele vê ombreiras,
caneleiras e proteção para as coxas, a armadura envolve seus peitos e há faixas
amarradas às suas cinturas. Os capacetes são longos e alguns têm lâminas e
chifres. O rapaz vê fuzis lasers em seus braços, mas não é isto que o
assusta. Aqueles homens portam longas e afiadas espadas, com lâminas curvas e
cabos enfaixados.
“Katanas” pensa
ele.
- Kyaputen, nós o
pegamos.
Outro homem
aparece ao seu lado e se curva para enxergá-lo melhor. Subindo sua horripilante
máscara, Nathan consegue ver os longos fios de barba em seu bigode e seu
queixo, todos grisalhos. O homem sorri, fazendo seus olhos puxados se fecharem
ainda mais.
- Ora, ora...
Como vai, Nathan-san? Você nos deu muito trabalho, sabia?
O sotaque do
homem torna difícil entendê-lo.
- Quem são
vocês...?
- Não se preocupe, somos amigos. "Tomodachi"... – então ele se levanta e ordena – Podem levá-lo!
Então um soldado
aparece e bate em seu rosto, desmaiando-o imediatamente.
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