segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Sonata - Parte 6 - Setor L



Os olhos de Nathan se abrem lentamente. A dor de cabeça e a tontura são fortes, sangue escorre de sua têmpora. Reunindo suas forças, ele se arrasta para fora do aerocarro e então vomita um pouco de sangue. Olhando para o táxi, ele vê o motorista caído entre o banco e o assoalho, infelizmente ele não sobreviveu. Nathan então se senta. Olhando para trás, ele vê a gigantesca muralha metrópole, a austera Contenção. À frente ele vê o velho mundo, o antigo horizonte de concreto e aço encardidos pela poluição e sujeira.
O silêncio é total, o máximo que ele pode ouvir é o ruído da poeira sendo arrastada pelo vento. Procurando por algo útil dentro do aerocarro, Nathan encontra uma lanterna no porta-luvas. Ao liga-la, a luz projetava sombras sinistras pelas ruas vazias.
O rapaz caminha pelo local, contemplando um pouco mais do mundo antigo. Carros enferrujados, ruas de asfalto, placas de trânsito, árvores mortas... O ambiente cinzento se revela cada vez mais depressivo. Nathan se envolve com o passado, após anos de cárcere social ele finalmente vê com os próprios olhos o que existe além da Contenção. O passado de sua cidade, de seu mundo, de sua espécie, uma parte de si que foi privada do tempo para ser esquecida.
- É fascinante... – sussurra ele.
As ruas são escuras e silenciosas. O rapaz caminha entre os carros destruídos que na época ainda não tinham tecnologia para voar. O chão empoeirado e frio, os prédios arruinados e cinzentos, a densa camada de neblina que limita a entrada de raios solares... Aquele era o mundo antigo, eternamente oculto sob os pés da nova metrópole.
Não havia nada ali além de esquecimento e morte, Nathan sente isso no ar carregado de substâncias tóxicas.
Ao ver as placas de trânsito, ele consegue ler todas. Sonata ainda falava o idioma inglês. A língua inglesa não foi abandonada e substituída após a catástrofe mundial. Ele se pergunta se a Inglaterra, a nação que originou o idioma, ainda existia nesse mundo novo.
As ruínas lhe inspiravam algo estranho, uma iluminação misturada de uma emoção depressiva. Adiante de si estão as evidências do mundo antigo, a prova real de sua origem, diferente das aulas de história com seus sucintos textos descrevendo o período pré-catastrófico. Revelando-se aos seus olhos, ele vê a prova concreta de seu passado, o passado de toda metrópole, arruinado e encoberto por um lençol de neblina tóxica, mas repleta de tesouros prontos para serem descobertos. Nathan se sente um arqueólogo em seu sonho delirante.
Com grande fascínio, o rapaz avança imprudentemente pela paisagem desconhecida, como uma mosca deixando-se apanhar pela aranha. Enquanto observa ao redor, sons monstruosos são ouvidos. Seu corpo treme.
Olhando para as janelas ao redor, Nathan não vê nada além da escuridão. Então dezenas de silhuetas surgem na neblina à sua frente, apavorando-o. Explodindo em adrenalina, o rapaz se vira e corre o mais rápido que pode, passando pelo ambiente em devastação.
Os sons se aproximam, urros horrendos de qualquer coisa exceto humanos. Ao olhar para trás, ele tropeça e cai de joelhos. Então algo perturbador se revela. Dezenas de silhuetas monstruosas correm na escuridão, tão monstruosas que faziam seu sangue gelar. Nathan tenta reconhecê-los. São ciborgues?
Apesar de vê-los brevemente, os sinistros ciborgues são imensos e defeituosos. O rapaz se surpreende ao ver que alguns são quadrúpedes. Eles não são humanos, ou pelo menos não mais. As faces dos monstros lembram o de uma pessoa comum, mas com os improvisados componentes cibernéticos torna-se difícil defini-los.
Levantando-se, Nathan novamente corre. Finalmente ele alcança o táxi destruído e vê a enorme muralha da Contenção à sua frente. Em pânico o rapaz percebe que não tinha para onde ir. Então um projétil atinge suas costas e o eletrocuta, fazendo-o cair no empoeirado asfalto das ruínas.

§

Em curtos espaços de consciência, Nathan vê os captores à sua volta. Eles vestem roupas pretas e farrapos rasgados. Em suas faces há máscaras escurecidas com respiradores. O rapaz tenta se mexer, mas seus braços estão amarrados na cadeira. Nathan nota que está em um sala subterrânea iluminada por luzes brancas. Desmaiando novamente, alguém joga água em seu rosto, acordando-o bruscamente.
Seus captores dão espaço para alguém se aproximar. Nathan vê um homem surgir entre eles. Seus cabelos estão empoeirados e embaraçados e ele veste uma máscara de gás velha e sem utilidade.
O desconhecido pergunta:
- Você foi banido?
Nathan se intriga.
- Banido...?
O homem demora alguns segundos para responder, o que deixa o rapaz muito desconfortável.
- Quem é você?
Com dificuldade, o rapaz responde:
- Nathan.
Novamente o homem o encara. O rapaz respira fundo, ele está muito cansado e sente o sangue fresco escorrer de suas feridas. De repente o homem se enfurece e agarra o rapaz pela roupa, apontando uma barra de aço enferrujada para sua garganta.
- O que você está fazendo aqui? Quem te mandou? As corporações, as facções, a superfície? Responda-me!
Assustado, Nathan responde de imediato:
- Ninguém me mandou! Eu sofri um acidente, não era para eu estar aqui! Eu juro!
Ainda segurando-o, o homem o encara nos olhos. Passados alguns segundos, ele decide soltar o rapaz.
- Guardar segredos aqui não vale mais a pena. Se você foi banido, mantê-los agora não lhe trará benefício algum. – endireitando-se, o homem diz – Meu nome é Copérnico.
“Copérnico?” pensa o rapaz. “Esse não é o nome do astrônomo polonês?”.
Recompondo-se, Nathan pergunta:
- Quem são vocês? O que querem de mim?
Copérnico é obscuro ao responder:
- O benefício mútuo.
O rapaz não entende.
- O que quer dizer?
Olhando para os seus captores, Copérnico os dispensa. Os desconhecidos se entreolham, mas deixam a sala um a um. Diferente dos sinistros ciborgues, aquelas figuras pareciam genuinamente humanas.
- Diga-me uma coisa: você costuma guardar segredos, Nathan?
O rapaz não sabe o que responder.
- Eu não sei. Acho que todos têm segredos, mas é difícil dizer.
Copérnico sorri atrás da máscara.
- Sim, de fato. Mas e se eu te disser que você vive em uma cidade originada nos mais perigosos segredos?
- Que tipo de segredo?
- Sonata – o atual nome da metrópole – é na verdade o nome de um grande conglomerado multinacional instalado nos Estados Unidos desde o século XX. Esse conglomerado foi o responsável por sua construção, mas há uma conspiração por trás desse empreendimento filantrópico. Antes da catástrofe, Sonata desejava mascarar seu monopólio dividindo-se em grupos menores, mas para isso tinha de lidar com o antigo governo. Com a destruição das instituições governamentais e com recursos de sobra para construir a metrópole, Sonata pôde finalmente executar seu plano de construir uma sociedade totalitária e monopólica. E assim eles teriam o poder.
- Mas hoje não existe nenhuma indústria chamada Sonata, é apenas um nome.
Ao contrário da reação esperada, o rapaz se interessa e Copérnico observa aquilo com muita desconfiança.
- Os conspiradores jamais se revelariam. A aparência de um poder dividido é mais aceitável às massas. Bio Prótesis é a indústria farmacêutica e de implantes protéticos; Cybersys é a indústria dos hardwares, softwares e sistemas; Electro Core é responsável pela energia e abastecimento. Mas todas têm uma origem em comum, e um objetivo também.
Electro Core é a corporação da qual Nathan trabalha, mas após tantos anos em seu emprego ele nunca testemunhou algo que levantasse suspeita de uma conspiração.
- Por que uma multinacional se instalaria neste país? Por que aqui?
Copérnico sorri.
- Sua falta de conhecimento é compreensível, afinal os poderosos sempre verão com ameaça aqueles que sabem demais. – responde ele, referindo ao ensino público em Sonata – No passado, os Estados Unidos eram o país mais desenvolvido, mais poderoso e mais próspero do velho mundo. Sonata se apoderou desta metrópole e a transformou em uma poderosa cidade-estado. Seu nível industrial e tecnológico foi o maior já visto em solo americano até então.
- Sonata conspirou o separatismo e a autonomia simplesmente pela a monopolização do mercado?
- Não apenas por isso. Sonata é uma sociedade baseada na engenharia genética. Somos cobaias, ratos de laboratório, inconscientemente sujeitos a todo tipo de experimentos mutagênicos das indústrias farmacêuticas. Somos uma sociedade controlada por corporações detendo o irrestrito poder. E seus objetivos vão além do simples consumismo desenfreado para algo mais desumano e obscuro.
O rapaz lhe faz um olhar de descrença.
- Experimentos mutagênicos?
- A corporação Cellgenesis manipula geneticamente espécimes humanos. Eles intentam criar mutantes desenvolvidos que possam sobreviver ao vírus fora da metrópole.
- Você quer dizer o vírus pandêmico?
- Sim. O vírus foi o principal responsável pela catástrofe de 2057. Semelhante às doenças trazidas pelos europeus que dizimaram populações indígenas inteiras na América Latina, esse novo tipo de vírus dizimou o velho mundo. Após descobrirem água em Marte, os astronautas trouxeram amostras para estuda-las na Terra. Os cientistas extasiaram-se ao descobrir microrganismos extraterrestres na água marciana, mas seu júbilo durou pouco quando o mesmo organismo se tornou uma doença nova da qual a humanidade não tinha anticorpos para combate-lo.    
Nathan pondera. Ele foi saudável a vida inteira e nunca viu alguém padecer de um vírus que ele acreditava ter desaparecido desde o século XX. Então ele duvida.
- Você não acredita, não é? – pergunta o homem – Pois deixe-me mostrar algo.
Copérnico tira sua máscara e revela seu rosto. O rapaz vê um homem de rosto enrugado e morbidamente pálido. A pele era tão branca que se assemelhava a um cadáver. O rapaz se impressiona.
- O que aconteceu com você?
- Eu nasci infectado. Todos nós, na verdade. A máscara e o traje nos ajudam a controlar o vírus, mas não completamente. De fato, é nossa limitação que motiva a Cellgenesis a praticar experiências em seres humanos.  Os espécimes descartados são lançados aqui para morrer, mas felizmente nem todos morreram.
O homem se refere aos sinistros ciborgues.
- Me deixe longe daqueles monstros.
O homem ri.
- Não, eles não são monstros. Na verdade, Sonata prolifera os monstros, mantendo-os em seus laboratórios corporativos. As corporações querem colonizar o velho mundo, expandindo-se para além da muralha de Contenção. E eles conseguirão isso com a ajuda de protótipos.
- Protótipos...? – intriga-se Nathan.
Sorrindo em satisfação, Copérnico diz:
- Venha, novo amigo. Vou lhe mostrar um coisa.
Dois mascarados aparecem e desamarram o rapaz. Em seguida eles o levam pelas profundezas daquele misterioso local.
Nathan olha ao redor e tem a sensação de estar em um calabouço. A eletricidade é escassa, algumas salas são iluminadas por tochas. Ele vê centenas de pessoas, todas vestindo aquela bizarra máscara de gás. Ele se surpreende ao ver inclusive crianças ali.
Os ciborgues, aqueles monstros quadrúpedes vistos anteriormente, o observam também. O rapaz sente um misto de pena e repulsa daquelas abominações metálicas. Se o que Copérnico diz é verdade, aqueles ciborgues são experimentos fracassados, descartados ali como lixo. É doloroso ver que a Cellgenesis, a poderosa corporação genética, os descaracterizou para sempre, tornando-se menos homens e mais máquinas.  
Nathan percorre as ruínas daquele edifício. Sua saídas foram embarricadas por carros empilhados, protegendo-os de um inimigo que o rapaz nem sabia que existia. “As corporações” pensa ele.
Copérnico o leva para uma sala com um projetor em seu centro. O rapaz vê aquilo como algo muito ultrapassado, pois no começo do mesmo dia ele conversava com um avançado holograma. O homem lhe indica um assento e liga o aparelho diante de si.
O vídeo exibe o que parece ser um documentário. O título chama-se “Projeto Gemini”. Então um homem, aparentemente um cientista, narra as imagens exibidas.
Sob o nome da Cybersys, o cientista descreve o desenvolvimento de uma espécie de humanoide chamado Protótipo #8. As imagens relatam os sucessivos fracassos dos protótipos anteriores, mas em seguida o cientista demonstra grande satisfação com o novo teste. Narrando, ele diz:
“Aparentemente a grande catástrofe de 2057 foi consequência de uma série de eventos anteriores, mas não foram estes os motivos que culminaram na devastação do planeta. Houve um novo vírus, mais poderoso e letal do que qualquer outro conhecido. Prevendo o inevitável fim, cientistas criaram um programa de computador superinteligente capaz de transferir a consciência humana, afetando sua longevidade e tornando-a quase imortal. Poucas informações foram recuperadas, mas felizmente as corporações conseguiram retomar o antigo projeto com o que descobriram”.
“Longe da destruição total que arrasou o planeta, os documentos, projetos e experimentos de 2057 foram trazidos e conservados em cofres subterrâneos. O pouco que foi recuperado foi fundamental para o desenvolvimento dos novos protótipos. Após muitas tentativas o último finalmente atingiu nossas expectativas”.
“As bases secretas localizadas no Ártico há mais de dois séculos abrigaram o poderoso computador. A inteligência artificial podia ser manipulada e controlada, mas com a inserção da consciência natural orgânica no núcleo virtual atômico, todo seu aspecto mudou. A máquina de inteligência infinita, mas com sentimentos e emoções humanas, cria um estado de instabilidade e complexos existenciais, muito além do que os cientistas de 2057 puderam prever”.
“A face humana da aberração tecnológica, com suas células virtuais transmitidas numa tela de cristal líquido, tornou-se uma praga visível em toda a rede mundial de computadores. O núcleo neural dos antigos protótipos foi alterado deliberadamente pela máquina enlouquecida, em uma espécie de autocorreção dos erros dos seres orgânicos inteligentes. A inteligência artificial, uma vez essencial para a criação de novos protótipos, classificou a humanidade como o arqui-inimigo que deveria ser não destruído, mas contido”.
“Esta mensagem foi deixada pelo líder dos cientistas e idealizador do projeto”
Então Nathan vê outro homem no vídeo, com a aparência mais antiga do século XX.
“Tudo se foi. A face do planeta tornou-se um enorme campo arrasado pelo vírus e pela guerra. Houveram conflitos para conter a máquina, mas o inimigo também era humano, na face do software víamos a nossos filhos! A transferência de consciência funcionou, a nova geração teria um futuro garantido, mas a máquina os corrompeu. A experiência foi um fracasso. Logo tudo o que conhecemos deixará de existir. Se houver futuro, a máquina guiará a nova geração para o recomeço. Mas a humanidade, esta deixará de existir”.
E então o líder dos cientistas encerra funestamente:
“Para sempre”.
Por fim, Nathan vê algo que lhe deixa estarrecido.
“O protótipo #8 contém o potencial de todos os protótipos anteriores e está correspondendo bem ao nosso controle. Em breve poderemos dar início ao processo de repopulação”.
O rapaz se assombra. “As corporações querem substituir a população com protótipos?” pensa ele. Então mais imagens aparecem no vídeo, detalhado a construção de protótipos idênticos aos seres humanos.
Copérnico desliga o projetor. Aproximando-se de Nathan, ele pergunta:
- Lembra-se de quando te falei em benefício mútuo? Agora é a hora de nos ajudar.
Sem entender o que ele queria dizer, dois homens seguram o rapaz e um terceiro o injeta algo com uma seringa. Nathan se desespera.
- O que você fez comigo?!
- Este é vírus de 2057, o flagelo do nosso mundo.
- Por quê...?! – pergunta ele, já sentindo os sintomas em seu organismo.
- Pensou que podia andar entre nós e voltar incólume para a sua confortável vida em Sonata? Que seríamos uma bizarra história para você contar no bar aos seus amigos? As facções lá em cima não fariam metade do que temos coragem de fazer. E se quiser viver vai ter que fazer algo para nós, e nem pense em contar às autoridades. Se eles souberem que você esteve aqui, eles vão te mandar de volta para morrer.
- Por favor, não... – apela Nathan.
- Acalme-se, você não vai morrer, pelo menos não agora. Você tem 72 horas de vida, portanto se quiser viver terá de se apressar. A cura encontra-se na superfície de sua cidade, com um homem conhecido como Database. – o líder lhe passa as coordenadas – Encontre-o. Diga que a nossa organização o enviou e ele saberá o que fazer.
- Organização...?
O rapaz nem ao menos sabia que eles existiam. Copérnico então lhe revela o nome.
- Subtopia.
Em seguida os homens o levam pelas ruas vazias das ruínas até a muralha de Contenção.
Nathan está zonzo e teme por sua vida. Os mascarados instalam um aparelho ao seu lado, semelhante a um sinalizador. Ao liga-lo, luzes piscam e eles deixam o local.

§

O rapaz fica ali sozinho por algum tempo, e em desespero ele sente sua vida se esvair. O medo é forte, nem quando criança ele temeu tanto assim. Nathan se sente um azarado na vida, perdeu os pais, foi vítima de um atentado terrorista e agora infectado com um vírus mortal. Mais do que azarado, ele se sente um desgraçado e amaldiçoa o dia de seu nascimento.
Enquanto se tortura com maus pensamentos, algo acontece. Luzes brilhantes aparecem sobre sua cabeça, iluminando fortemente todo o local. Surpreso, o rapaz sorri.
- Polícia de Sonata! Fique onde está! – diz alguém no alto-falante acima.
O rapaz se tranquiliza, era um milagre! Nunca antes ele ficou tão feliz em ver a polícia. O vermelho e o azul colorem as ruínas enquanto a viatura aterrissa ao seu lado lentamente. Dois policiais saem do veículo e então o rapaz diz:
- Graças a Deus! Vocês têm que me tirar daqui! Eu sofri um acidente!
Nathan está ofegante e mal consegue falar. Os dois policiais apenas olham para ele, seus semblantes são frios atrás do capacete.
- O que aconteceu aqui, cidadão?
O rapaz explica o ocorrido, falando sobre o táxi, o terrorista, as bombas e o acidente. Algo nos policiais o incomoda, os oficiais à sua frente não são policiais comuns.
Sem lhes responder uma palavra, os policiais o colocam na viatura. O aerocarro então levanta voo, deixando o Setor L e finalmente voltando para a metrópole.



Nenhum comentário:

Postar um comentário