Sentado em uma
banqueta, Maynard come seu macarrão com legumes em uma barraca de comida
chinesa sobre a plataforma. Chovia em Sonata, e no distrito de Obedience –
Setor D, as pessoas voltavam apressadas para casa.
Usando seus hashis,
ele come assistindo ao noticiário na televisão. O apresentador informa sobre o
aumento alarmante de atentados terroristas na metrópole no último ano. As
facções entraram em um frenesi de violência desde o começo da rebelião e as
autoridades culpavam exclusivamente o Inimigo de Estado. Em uma coletiva de
imprensa, o Ministro de Segurança Pública diz:
“Encontraremos o
Inimigo de Estado, esse Nathan Hill que nos causou tanto transtorno e
sofrimento, e ele pagará por seus crimes contra a população sonatense”.
Alguém pergunta
se há previsão para o fim das hostilidades. O ministro responde.
“Quando
desmantelarmos essa organização paramilitar de rebelados, as hostilidades
cessarão. Capturaremos o Inimigo de Estado, vivo ou morto se necessário”.
Maynard continua assistindo
tranquilamente. A chuva cai no telhado da barraca e algumas gotas molham seu
casaco. Virando-se, ele tenta se proteger quando percebe algo. Enquanto os
pedestres passavam pela plataforma, ele vê algumas pessoas em outras barracas, sentadas distantes umas das outras, olhando para ele.
Levantando-se,
ele paga o atendente e discretamente deixa o local.
Entrando no
túnel, ele caminha com as mãos nos bolsos e de cabeça baixa, tentando se
misturar. Olhando para trás, ele não vê ninguém, mas ainda se sente observado. Entrando
na megatorre, ele caminha pelo corredor e se dirige ao elevador. Emitindo um
som de sino, as portas se abrem e Maynard entra, apertando o botão de seu andar
em seguida.
Antes das portas
se fecharem, ele vê de relance duas pessoas estranhas entrarem no corredor logo
atrás. Disfarçando, ele limpa sua garganta e olha para baixo.
Dez minutos se
passam. Maynard está calmamente encostado na parede do corredor. Ao ouvir o som
da explosão, ele confirma sua suspeita. Alguém tentou invadir seu apartamento,
explodindo-o com o objetivo de mata-lo.
Bocejando,
Maynard olha para o seu relógio. Apertando os botões no painel da porta, ele
entra em outro apartamento e deixa a porta aberta atrás de si. Passos são
ouvidos no corredor. Duas pessoas correm apressadamente, aproximando-se de sua
posição.
- Ei! – grita ele
ao ver os dois – Estão procurando por mim?
Ao ligar a luz,
os dois se espantam ao ver o mercenário sentado em uma poltrona de frente para eles.
Sem dizer uma única palavra, um homem vestido de azul retira sua arma do coldre
e aponta para o seu rosto. Maynard se joga para trás ao ouvir o disparo.
Segundos antes, o mercenário havia ativado seu Campo de Força, fazendo o
projétil se achatar contra uma parede verde e quase invisível. A
parede protetora tremula calmamente, como se fosse o efeito de uma pequena
pedra lançada na água.
Ao ver a bala
cair no chão, o mercenário diz:
- Ah! Arma de
fogo? Não sabia que mais alguém usava essas armas arcaicas e ultrapassadas...
Uma runner,
companheira do homem de azul, aperta os botões na parede e logo aparecem mesas
e sofás retráteis. Os dois se escondem atrás deles e continuam atirando. O mercenário
retira de seu bolso um objeto cilíndrico, era o dispositivo de seu campo de
força, e se repreende ao ver que se esqueceu de recarrega-lo.
Tirando uma bomba
de gás de sua jaqueta, Maynard a atira contra os invasores. Ao estourar e
exalar o gás, ele empunha sua pistola laser e se levanta. Antes de poder mirar,
ele é surpreendido pela mulher apontando sua arma para seu peito. Atirando, o
impacto o lança violentamente contra a parede.
O corpo do mercenário
brilha em uma cor amarelada. Os invasores se intrigam ao vê-lo se levantar
novamente e sem nenhum ferimento visível. Ele mexe em seu cinto e os invasores
conseguem ver. O mercenário estava usando um cinto Escudo, um dispositivo
altamente tecnológico, mais eficiente que os robustos coletes a prova de balas.
Maynard atira na
mulher e ela cai atrás do sofá. O homem ainda está sufocando com o gás, então o
mercenário corre em sua direção e lhe dá uma voadora, fazendo-o voar contra a
parede do corredor. Os dois entram em luta corporal e Maynard, sendo mais
experiente e mais bem treinado, o puxa de volta para o apartamento e o empurra
contra a janela, fazendo-o cair junto com os estilhaços lá embaixo.
- Androide! – grita
a mulher.
- Androide?! – intriga-se
Maynard – Por acaso seu amigo é um robô?
Enfurecida, ela
se levanta e entra em luta corporal com ele. Suas habilidades e agilidade são
formidáveis, surpreendendo Maynard, que apesar de seu treinamento militar,
sente dificuldade em manter a briga.
O invasor cai
alguns andares, colidindo com alguns tubos de refrigeração. Ele consegue se
agarrar a uma grade e interrompe a enorme queda, salvando-se da morte. Ferido e
desarmado, ele olha para cima e começa a escalar de volta, ele tinha que ajudar
a runner.
Além da dor em
seu corpo, seus olhos, seu nariz e sua garganta ardiam devido ao gás. Além
disso, ele vê que sofreu alguns danos em suas próteses biomecânicas.
Escalando a
lateral da megatorre, ele passa por algumas janelas e consegue ver os
apartamentos por dentro. O isolamento termoacústico das janelas inibe os ruídos
e as pessoas nem mesmo percebiam sua presença. Em um
apartamento, ele vê uma mulher fazendo atividade física com seu personal
trainer holográfico. Acima, um homem vestido com uniforme de operário injeta
drogas estimulantes em seu braço antes de ir trabalhar. Em outro apartamento, o
invasor vê um garoto se masturbando enquanto assiste a um filme pornográfico no
computador. O homem sentia um mórbido interesse ao espionar a privacidade
alheia.
O tal Androide
chega ao seu objetivo e, ao se agarrar na beirada, vê sua companheira sozinha e
imóvel no meio da sala. Ele se joga para dentro e grita:
- Alexia!
- Não! Não se
aproxime!
O homem corre em
sua direção. Algo se espeta em sua jaqueta e o eletrocuta, fazendo-o gritar e
cair no chão. Percebendo que o local estava seguro, Maynard se levanta,
calmamente recarrega suas armas e por último abana suas roupas.
O mercenário se
aproxima do invasor e o algema. Chutando-o levemente, ele diz:
- Ei, rapaz.
Acorde.
A runner o encara
ferozmente. Então ele pergunta:
- Quem são vocês?
Quem os enviou aqui?
A mulher cospe
em seu rosto. Maynard ri e balança negativamente a cabeça.
- Pela cara de
vocês vejo que não são da polícia, são assassinos de aluguel. Vieram aqui para
eliminar o alvo e encerrar o problema, sem satisfações ou perguntas
desnecessárias... – Maynard sorri, ele gostava disso. – Quem os enviou?
Cellgenesis? Cybersys? As facções? Ou foram os fascistas da polícia
corporativa?
- Não somos da
polícia. – responde o invasor.
- Então quem são?
Eles não
respondem. Tirando sua arma da jaqueta, Maynard a aponta para a cabeça da mulher.
- Não! Eu falo o
que quiser, mas não a machuque!
- Estou
esperando. – responde ele com a arma ainda apontada para ela.
- Somos do
Submundo.
O mercenário se
surpreende. O Submundo é a sede dos rebelados e do Inimigo de Estado. Seus
agentes são os runners, os famosos mercenários da superfície. Hackers,
couriers, ladrões e até assassinos, não importava a classe. Eles agiam em causa
própria, sem ligações políticas ou religiosas a nenhuma
facção. São habilidosos e ágeis, o melhor subproduto que Sonata tinha a
oferecer.
- Por que o
Submundo me quer morto?
O homem ia
responder, mas a mulher intervém.
- Me diga você.
Maynard pondera.
Eles ouvem sons de sirene no lado de fora, as viaturas policiais estavam por
perto. O mercenário ia dizer algo, mas uma bomba de luz se estoura, cegando
seus olhos. Caindo de joelhos, ele põe as mãos no rosto e grita.
Alguns minutos se
passam. A visão do mercenário retorna lentamente e então ele consegue ver. Os invasores haviam desaparecido.
As viaturas se
aproximam, iluminando o ambiente com suas cores vermelhas e azuis. Os
residentes dos outros apartamentos também aparecerem, fazendo olhares
assustados e curiosos. Sem tempo para procurar pelos invasores, o mercenário se
levante e diz para si mesmo.
- Tenho que sair
daqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário