Sou o diretor há quinze anos
Desta clínica psiquiátrica
Que alguns costumam chamar de hospício
E outros de sanatório
Mas eu sou mais solícito
E prefiro chamar de abrigo
Esta manhã em minha mesa
Alguém me deixou sua descrição
Que ele eloquentemente diz ser
Sua carta de apresentação
E nela diz:
Eu não confio em você
Eu não confio em ninguém
Se você entrar em minha casa
Você levará um tiro
Se você me pedir informação
Sobre os endereços em minha cidade
Eu golpearei sua cabeça
Com um cassetete de policial
Eu carrego uma arma
A levo comigo o tempo todo
E o som das armas disparando
É uma música psicopatológica para os
meus ouvidos
E eu estou ansioso para ouvi-la de
novo
Armas de fogo
São um atalho para sua morte
Elas tornam minha vida mais fácil
Mais prazerosa e mais feliz
Eu não sei quem você é
E eu não me importo
Personalidade perde seu sentido e utilidade
Quando a vida expira do seu corpo com
facilidade
Para nunca mais me incomodar de
novo
Com um distorcido senso de
realidade
Que cresce cada vez mais com a
idade
O melhor de todos os amigos
O melhor ofício é o do assassino
Introvertido
Desequilibrado emocionalmente
Maníaco sociopata
A psicose parasitando em minha
mente
Estes são os atributos
Que incorporam meu ego
E compõem meu núcleo neurológico
doentio
Eu leio aquilo e rio
Mais alto e mais forte, como eu rio
E no furor desta risada
Eu solto uma bela gargalhada
Saliva escorre aos berros
Em meu jaleco de médico
Perco o fôlego de tanto rir
Me apoio na mesa para não cair
Foi então que eu percebi
Que aquela foi a descrição mais precisa
Que eu escrevi
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