quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Carta de Apresentação




Sou o diretor há quinze anos
Desta clínica psiquiátrica
Que alguns costumam chamar de hospício
E outros de sanatório

Mas eu sou mais solícito
E prefiro chamar de abrigo

Esta manhã em minha mesa
Alguém me deixou sua descrição
Que ele eloquentemente diz ser
Sua carta de apresentação

E nela diz:

Eu não confio em você
Eu não confio em ninguém
Se você entrar em minha casa
Você levará um tiro

Se você me pedir informação
Sobre os endereços em minha cidade
Eu golpearei sua cabeça
Com um cassetete de policial

Eu carrego uma arma
A levo comigo o tempo todo
E o som das armas disparando
É uma música psicopatológica para os meus ouvidos

E eu estou ansioso para ouvi-la de novo

Armas de fogo
São um atalho para sua morte
Elas tornam minha vida mais fácil
Mais prazerosa e mais feliz

Eu não sei quem você é
E eu não me importo
Personalidade perde seu sentido e utilidade
Quando a vida expira do seu corpo com facilidade

Para nunca mais me incomodar de novo

Com um distorcido senso de realidade
Que cresce cada vez mais com a idade
O melhor de todos os amigos
O melhor ofício é o do assassino

Introvertido
Desequilibrado emocionalmente
Maníaco sociopata
A psicose parasitando em minha mente
Estes são os atributos
Que incorporam meu ego
E compõem meu núcleo neurológico doentio

Eu leio aquilo e rio
Mais alto e mais forte, como eu rio
E no furor desta risada
Eu solto uma bela gargalhada

Saliva escorre aos berros
Em meu jaleco de médico
Perco o fôlego de tanto rir
Me apoio na mesa para não cair

Foi então que eu percebi
Que aquela foi a descrição mais precisa
Que eu escrevi

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