terça-feira, 8 de setembro de 2015

A Cidade de Jundiaí



Amamos nossos irmãos
Mas não amamos você
Amamos nossos amigos
Mas você não é nosso amigo

Nós sempre nos respeitamos
Mas não respeitamos você
Valorizamos quem tem dinheiro
Mas não quem não tem como você

Sempre saímos aos fins de semana
Mas a você ninguém chama
Sempre sorrimos quando nos vemos
Mas fechamos a cara quando te vemos
Estamos sempre nos ajudando
Mas não ajudamos você
Estamos sempre nos reunindo em família
Mas não com um “sem família” como você

Sempre somos úteis conosco
Mas não com um inútil como você
De nós estamos sempre nos lembrando
Mas nunca nos lembramos de você

Atendemos sempre nossas ligações
Mas nunca atenderemos você
Nossas portas estarão sempre abertas
Mas sempre a fecharemos para você

Todos nós temos emprego
Diferente de quem não tem, como você
E quando um de nós está desempregado, ajudamos
Mas nunca empregaremos alguém como você

Nós nos importamos com um dos nossos
Mas não nos importamos com você
Se algum dos nossos não tem carro, damos carona
Mas deixaremos andando de ônibus quem não tem como você

Frequentamos lugares mais caros
Onde pobres não podem pagar como você
E se um dia te vermos em nossos lugares
Nunca mais o frequentaremos para não ter de vermos você

Se um dos nossos tiver fome
O daremos do que comer
Se um dos nossos tiver sede
O daremos do que beber
Nem nos pense em pedir água ou comida
Pois não compartilharemos de nossa abundância
Com alguém como você

O poeta diz:

Não sei se estou apto para esta cidade
Nariz empinado
Requinte e elegância
Arrogância
Pessoas que tem e pessoas que não tem

Não sou forte como quem habita esta cidade
Poder aquisitivo alto
Padrão de vida alto
Até o salto do calçado é alto...

E o romancista, amante de elegias, escreveu:

Se as nuvens cinzentas encobrirem o céu
Deixe chover
Se a noite vier e ficar escuro
Deixe escurecer
Se em minha casa eu chegar
Deixe-me entrar
Se de minha casa eu sair
Deixe-me ir

Se hoje chover sobre a cidade
Deixe molhar
Se o dia for longo e cansativo
Deixe-me descansar
Se em algum dia eu precisar
Deixe-me perguntar

Se tudo tiver que desaparecer
De repente sumir ou morrer
Então a Deus eu irei implorar
Para nosso amor sempre durar

E que esse Amor sempre dure!

Pode passar muito tempo
Mas uma hora eu apareço
Pode ser no conforto do shopping
Ou na avenida ou no centro

No amanhecer frio que entardece quente
Nos veremos novamente

Nossos olhares se cruzarão
E você verá minha face repulsiva
No meu sorriso pobre
Você sentirá minha irritante fraqueza

Acene
Sorria
Diga “oi!”
Ou vire seu rosto em desprezo

Quem eu estou enganando?
Eu virarei o rosto também
Por que eu sou jundiaiense
E aprendi a ser nojento também

Eu amo essa cidade
Eu nasci neste lugar
Nessa cidade que odeia
Quem dela tenta se orgulhar

Mas você me conhece
Eu estou sempre por aí
Subindo a rua estreita
Na cidade de Jundiaí

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