terça-feira, 1 de setembro de 2015

Resistência Purista





[Trecho do meu terceiro livro. Tema Cyberpunk]


Connaissance, um antigo distrito industrial localizado no Setor P, já foi um local movimentado e cheio de pessoas. Haviam algumas torres residenciais para abrigar os trabalhadores, mantendo-os próximos das fábricas e de suas máquinas que nunca paravam de funcionar. A população local trouxe o comércio e o governo corporativo construiu muitos andares dedicados exclusivamente ao serviço público, como escolas, creches, clubes e hospitais.
Com a rápida expansão da metrópole, o velho distrito de Connaissance perdeu muito de sua glória e hoje mantém apenas suas fábricas e usinas, não passando de mais um distrito industrial nos arredores de Sonata.
Atualmente muitos desses andares permanecem vazios e abandonados. Para prevenir focos de atividade criminal, a Polícia os interditou e proibiu a entrada, mas após anos de abandono outros moradores passaram a habitá-los. Oferecendo a infraestrutura e o espaço necessário, criminosos políticos e paramilitares montaram suas bases nesses andares, e de lá comandam seus atos terroristas frequentemente sangrentos.
Em um hospital abandonado encontra-se a sede da Libertação Purista, a famosa facção defensora da pureza da raça humana. O hospital opera clandestinamente e ocupa um andar inteiro da megatorre, tendo um símbolo enorme da cruz vermelha na lateral do edifício.
Alguém vestido de branco desce as escadas. Ele veste uma máscara de ar pendurada em seu pescoço, usa toca sobre os cabelos e luvas cirúrgicas até a metade dos braços. O homem percorre o hospital com dezenas de pacientes sobre as macas, são os militantes da facção feridos em combate. Enfermeiros andam apressados pelos corredores, telefones tocam sobre os balcões, secretárias e recepcionistas atendem as pessoas, médicos empurram macas e outros preenchem formulários. Em outra sala há o necrotério com macas e corpos sob os lençóis. No fim do corredor há uma porta fortificada. Passando seu olho direito no leitor de retina, a porta se abre e ele prossegue em seu caminho.
Um vasto salão se revela. Nele há pessoas vestidas de branco, verde e prata. Tanques de formol com corpos humanos se estendem pelas paredes, e os cientistas os examinam acompanhando os dados nos computadores. Médicos fazem autópsias em corpos sobre as macas, estudando os efeitos de seus experimentos ilegais. Adiante o homem vê computadores e clusters com seus hackers operando-os. Os soldados da facção patrulham o local com suas armas laser em punho. Naquele lugar não há nenhum robô ou prótese robótica nas pessoas. Os cirurgiões, cientistas e enfermeiros não são iguais aos ciborgues maculados pelas máquinas que habitam a metrópole. Na facção da Resistência Purista, todos são puramente humanos.
Há uma porta com um desenho simplório de um homem com os braços para o alto, aparentemente feliz. Tirando suas roupas de médico, o homem veste roupas pretas e requintadas. Então ele finalmente se senta.
Em uma plaqueta sobre a mesa está escrito: “Frank Nasier, líder da Libertação Purista”. De todas as facções que aterrorizam a metrópole, a famigerada organização LP é a que todos mais têm medo. Espalharam boatos de que os puristas são os cruéis carrascos que, em seu delírio fundamentalista de pureza física, arrancam violentamente as próteses biomecânicas dos cidadãos pegos em passarelas desertas e túneis escuros pela cidade.
Um homem entra em sua sala. Ele veste o típico uniforme branco, verde e prata, usado principalmente pelos soldados da facção.
- Sr. Nasier. Tenho boas notícias. Obtivemos sucesso em nossas pesquisas.
O líder injeta em sua veia uma droga polivitamínica modificada capaz de fortalecer suas capacidades físicas e mentais. Ele olha para o homem e responde:
- O que é tão importante?
- O experimento nanotecnológico. As células se reproduziram!
Arregalando os olhos, o líder se levanta rapidamente e deixa sua sala.
Aproximando-se dos tanques com corpos humanos, Nasier vê um homem imerso num líquido azulado com um respirador em seu rosto. Em seu corpo há vários tubos conectados ao seu tórax, alguns o conectam em seus braços e pernas, injetando-o líquidos com propriedades mutagênicas.
Um cientista acompanha os resultados num monitor sobre a mesa. O espécime está vivo, ele conseguiu resistir aos ousados experimentos praticados pelos puristas.
- Quais foram os resultados? – pergunta o líder.
O cientista não consegue conter a euforia.
- Os espécimes sobreviveram aos estágios finais. A potência da droga genética não precisou ser diminuída desta vez. Estamos perto de criar um novo ser humano!
Nasier pondera. Por anos ele tenta substituir o uso das máquinas na evolução físico-psíquica do Homem. Mesmo tomando as drogas genéticas capazes de equipará-los com as máquinas, eles não conseguiriam vencer a guerra contra seus arqui-inimigos, os Trans-humanistas. Para a frustração do líder, as máquinas ainda são superiores.
O ódio cresce em seu peito. As duas facções são ferozes inimigas, antagonizando fundamentalmente na ideologia. Os Trans-humanistas são evolucionistas, acreditando na evolução da raça humana através dos avanços tecnológicos. A Resistência Purista acredita na evolução pela seleção natural, baseando-se em estudos genéticos e darwinistas.
Muitos dos espécimes nos tanques eram voluntários, homens fanáticos pelo ideal purista. O fanatismo tirou-lhes a razão, o radicalismo guiou suas mentes. Acreditando travar uma guerra libertadora pela humanidade, esses homens doaram a si mesmo para os testes genéticos capazes de tirar vidas. Frank não se importa com quem vive ou morre, desde que ele saia vitorioso.
- Os espécimes alcançaram o nível desejado?
- Com base nos relatórios, a capacidade de raciocínio alcançou uma marca impressionante, dez vezes acima o de uma pessoa normal. Pode-se dizer que os espécimes podem pensar pelo método binário... – conclui o cientista.
- Então estamos criando um gênio?
- É difícil dizer. Creio que os espécimes sejam capazes de calcular com velocidade impressionante, e não de criar algo.
 - E quanto às suas capacidades físicas?
- Aparentemente sua força física alcançou nível hercúleo.  
Nasier se espanta. Não são homens dentro dos tanques. São monstros.
Um soldado aparece atrás do líder. Segurando um relatório em suas mãos, ele diz:
- Sr. Nasier. Há outro assunto que necessita de sua atenção.
- O que foi, tenente?
- O Inimigo de Estado. Nossos espiões o encontraram, ele estava nas mãos dos Católicos Romanos.
Ao ouvi-lo, o líder redobra sua atenção.
- Você tem certeza?
- Sim, mas recebi notícias que ele não está mais lá. Alguém o levou antes que os fundamentalistas pudessem doutriná-lo. Nós não o vimos desde então.
Nasier se enfurece. Nathan, o mesmo Nathan que hoje é caçado pelas facções e a polícia, foi o responsável pelo fracasso do atentado a bomba em uma das sedes dos Trans-humanistas.
- Quem o levou?
- Um runner, possivelmente a mando dos Trans-humanistas.
- Quem é esse runner? – pergunta ele.
- Vertigo. Ele é muito habilidoso e já trabalhou para nós no passado.
Ignorando o homem, o líder responde:
- Ache-o. Mate-o. Traga o Inimigo de Estado até mim.
- Mas senhor, o engenheiro Nathan deve estar fora de nosso alcance agora. Possivelmente escondido no Submundo.
Nasier pondera. O Submundo é um lugar perigoso. Invadi-lo poderia causar uma guerra dispendiosa contra os runners, enfraquecendo a facção e tirando-lhes o prestígio. Os runners são uma força necessária, renovável e barata. Quando os serviços de espionagem são arriscados demais, as facções os contratam e geralmente obtém sucesso. Afinal, não se pode infiltrar um ocidental no meio de asiáticos como a Bushido.
- Se esse runner, Vertigo... está trabalhando para os Trans-humanistas, então só eles sabem onde Nathan está. Precisamos de uma missão de infiltração, uma equipe habilidosa e experiente que consiga essa informação entre nossos inimigos. Devemos nos infiltrar secretamente, ninguém pode nos detectar, ou a missão será um fracasso.
O tenente concorda.
- Precisaremos de armas silenciosas, potentes e capazes de estraçalhar as ligas metálicas. Infelizmente nossas armas não são silenciosas assim.
O líder entende. Os Trans-humanistas usam armaduras, biopróteses e exoesqueletos em seus corpos. Apenas as armas mais potentes podem derrubá-los, e essas armas são pesadas e barulhentas. Nasier precisa de discrição, alguém que derrube um ciborgue sem fazer barulho, sem chamar atenção desnecessária.
Então ele tem uma ideia.
Chamando o cientista, o líder pergunta:
- Quantos espécimes temos para utilizarmos em combate?
O cientista lhe faz um olhar preocupado.
- Cinquenta... Mas todos estão em estágio inicial e não tenho previsão para...
- Ótimo. – interrompe ele. – Preciso que prepare apenas três.
Exasperado, o cientista responde:
- Mas senhor, eles ainda não estão prontos! Talvez precise de mais quatro meses!
- Quatro meses? – pergunta ele. – Acelere o processo, não temos tanto tempo.
Ainda preocupado, o cientista pergunta:
- Mas para quando o senhor precisa deles? Daqui a um mês? Dois, talvez?
O líder sorri. Antes de dar as costas ele responde:
- Esta noite.

A chuva cai sobre Sonata. Relâmpagos atravessam o céu noturno e iluminam a tenebrosa megalópole. O horário de rush se atenua e a noite fica mais tranquila, mas esta noite não será nada tranquila para os Puristas.
Nasier olha para o para-brisa do furgão. A chuva cai contra o vidro e deixa as luzes da metrópole ainda mais brilhantes. O tenente dirige o veículo em silêncio. Ao olhar para trás, o líder vê os três espécimes, agora libertos dos tanques e prontos para o combate. Ou deveriam estar.
Os espécimes estão sentados no escuro, encarando o vazio. Eles não dizem nada ou mesmo olham para os lados. Suas expressões são de frieza e obediência. Nasier sente-se intimidado por eles. Os espécimes são de estatura elevada e seus músculos parecem exceder a estrutura física de seus corpos. Apesar de não demonstrarem dor ou desconforto, eles respiram e seus peitos estufam, pulsando as horríveis veias sobressalientes em suas peles. Apesar de dedicar sua vida à proteção da humanidade, o líder reconhece que aqueles espécimes não eram humanos.
Nasier se distrai olhando para as aberrações atrás de si. Então o tenente o chama, assustando-o.
- O que foi, tenente?
- Estamos nos aproximando do território dos Trans-humanistas.
- Certo. – o líder olha para trás e diz. – Atenção! Daqui a pouco vamos descer. Preparem-se para a missão.
Então os três lentamente viram suas cabeças e olham para o líder. Eles miram seus olhos azuis para ele, uma coloração antinatural e modificada, alterada quimicamente pelas drogas genéticas utilizadas nos experimentos científicos. Novamente Nasier sente medo, ele sente como se estivesse falando com mortos-vivos.
O tenente estaciona o furgão entre duas megatorres e todos saem pela noite. As passarelas estão movimentadas e as pessoas vestem capas de chuva, protegendo-se dos irritantes pingos que ensopam suas roupas. Água escorre pelas calhas e formam poças nas passarelas e pisos. Os relâmpagos iluminam brevemente aquele emaranhado de gente caminhando aos poucos pelas megatorres. A chuva molha as passagens e umidifica o ambiente, tornando feio o que antes se esforçava para ser bonito.
Os espécimes caminham entre as pessoas. Vestindo capas com capuz, aqueles homens de estatura elevada se sobressaem entre a multidão. Eles movem-se aos poucos e dão a impressão de serem a própria Morte entre eles. Mas as pessoas, ocupadas ou cansadas demais para perceber, passam ao lado das figuras sobre-humanas e continuam seu caminho.
O líder cobre seu rosto e olha atentamente ao redor. Numa cidade tomada pelo domínio corporativo e conflitos ideológicos, todos são potenciais suspeitos. A passarela chega a um imenso túnel entre uma megatorre. Os neons do comércio local brilham em centenas de luzes, formando letreiros e desenhos diversos. Entre as lojas há as escadarias dos níveis residenciais, espalhados entre os diferentes níveis da imensa megatorre. Algumas pessoas se sentam nos degraus da escada e outras param nas lojas para comprar algo de seu interesse.
Um comerciante grita no túnel, chamando clientes para sua loja. Ao ver os imensos espécimes, ele os chama e então sente seu coração disparar. Os espécimes lentamente viram suas cabeças e olham para ele. Os olhos do comerciante se arregalam. Emudecendo-se e tremendo de medo, o homem se paralisa.
- Ei, cara. Não estamos interessados em suas porcarias. – diz o tenente.
O comerciante sai de seu transe e olha para ele. O tenente o encara de cima a baixo e vê pernas bioprotéticas em seu corpo. Pegando-o pela camisa, o tenente o empurra dizendo:
- Maldito mecanicista!
Na saída do túnel a passarela se divide em várias ramificações, ligando-se às demais megatorres ao redor. Acima, na escuridão dos terraços, o líder vê a silhueta de homens vigiando o movimento abaixo. Em alguns pontos das megatorres, inacessíveis às pessoas comuns, outras sombras se movem discretamente. Observando melhor, Nasier nota que elas estão com armas em mãos. Olhando para o tenente, os dois assentem, ele viu também. Eles estavam em territórios controlados pelos Trans-humanistas.
Ao lado da entrada de uma estação de aerometrô há uma larga plataforma. Sobre ela há um ponto de ônibus onde as pessoas aguardam calmamente. As vias virtuais acima e abaixo das passarelas estão movimentadas e os aerocarros passam frequentemente. Misturando-se na multidão, os puristas fingem esperar pelos ônibus e obsevam em silêncio.
Sobre um terraço, onde as luzes não alcançam, um homem conversa com os Trans-humanistas. Aquele homem é diferente, não tem a aparência de seu corpo alterado por tubos e ligas metálicas. Então ele deixa o terraço e desce por um elevador panorâmico na lateral do edifício. Descendo num túnel à frente, o homem caminha entre as pessoas e some entre a multidão. Nasier diz:
- Vamos.  
Caminhando discretamente, os puristas seguem o homem por túneis e passagens dentro das megatorres. Então o homem entra num corredor com grossos tubos de aço na parede. Os tubos têm pequenas fissuras e sopram vapor, deixando o ambiente com uma fina neblina. Os passos ecoam e o homem tem a impressão de que alguém está seguindo-o.
- Quem está aí? – pergunta ele.
Olhando para trás, ele não vê ninguém. À frente há apenas o vapor dos tubos e as lâmpadas piscando. Acalmando-se, ele continua seu caminho. De repente um homem enorme aparece à sua frente e ele imediatamente se intimida. Ao tentar voltar, ele se esbarra em outro homem enorme, apavorando-se. Antes que pudesse fazer algo, alguém põe um saco em seu rosto e ele desmaia, não se lembrando de mais nada desde então.

O homem acorda. Sentindo fortes dores de cabeça, ele olha ao redor e se vê numa sala escura e apertada. Cinco homens estão à sua frente, mas três deles o assustam por sua estatura e aparência monstruosa.
- Quem são vocês?
O líder retira seu capuz e responde:
- Acho que você sabe quem somos.
Então ele os reconhece, a famigerada Resistência Purista. Em pânico, ele pergunta:
- O que vocês querem de mim?
- Você sabe o que queremos.
- Não sei do que está falando.
Nasier olha para o tenente. Tirando a calça do homem, o líder vê que suas pernas são próteses metálicas.
- Ora, ora... O que temos aqui? – diz Nasier. – Vejo que você é mais um mecanicista impuro que profana seu corpo com a imundície industrial, misturando sangue com óleo, carne com máquina, veias com cabos... Escória! Receba o castigo merecido para quem profana o sagrado corpo.
Um dos espécimes se aproxima.
- O que vão fazer? – pergunta ele, desesperando-se.
O espécime segura sua perna protética e a arranca com as próprias mãos. Sangue e óleo espirram da nauseante ferida aberta, puxando fios e cabos enrolados entre os nervos e tendões.
O homem grita sem parar. O líder não demonstra compaixão, ao contrário, ele exibe apenas desprezo. O tenente sente ódio dos impuros que corrompem seus corpos e também não demonstra compaixão. Certificando-se de que o homem sentiu bastante dor, o líder pergunta:
- E então? Vai nos dar o que queremos?
- Sim! Mas não me machuquem mais, eu imploro!
- Onde está o Inimigo de Estado?
- Quem...?
Então o espécime se aproxima novamente. Interrompendo-o, o homem responde:
- Ele está com os Trans-humanistas! Mas não está aqui, está bem longe e escondido. Muita gente quer ele, as corporações, as facções, a polícia... Não é seguro deixá-lo nos níveis superiores.
- Por que vocês o capturaram?
- Ora, isso não é óbvio? – sorri ele, com dificuldade. – Queremos começar uma Revolução. Todos queremos, até vocês! Vamos enfraquecer o poder das corporações. Eles não podem lutar contra a metrópole se todos estiverem unidos...
O homem está certo. O que Nathan sabe é um risco à segurança estatal, sua informação pode abalar as fundações da sociedade corporativa inteira. Se ele divulgá-la, a população se convencerá de que as corporações mentem, que a polícia esconde os fatos e que a chamada “proteção contra ameaças” é mais uma ferramenta para privá-los da verdade. A polícia não quer pegá-lo porque é um foragido, mas sim porque é uma arma ambulante, uma ameaça viva aos segredos corporativos ultrassecretos.
- E onde vocês o escondem?
O homem hesita.
- Eu não posso dizer. Eles me matariam... – ele respira fundo e continua – Ouça, cara. Eu sou apenas um informante. Não sou como os Trans-humanistas, eu nem mesmo tive meu corpo aprimorado para o combate! Tenho certeza que metade dos habitantes desse distrito tem pelo menos uma prótese em seus corpos... É isso o que vocês querem com a revolução de vocês? Exterminar noventa por cento da metrópole por não terem seus corpos puros?
Insultado, Nasier sente um ódio fanático crescer em seu peito. Controlando-se, ele responde:
- Diga-me onde ele está e o deixaremos viver.
Minutos depois passos são ouvidos no corredor. Não são passos comuns, mas passos metálicos como se as pessoas que estivessem correndo tivessem membros robóticos. Nasier e os outros deixam a sala. Alguém grita:
- Lá estão eles!
O tenente vê seus perseguidores. Um deles ergue seu braço e o aponta para ele. O tenente se confunde, a ponta de seu braço é a própria arma!
Tiros lasers são disparados. Os espécimes são atingidos e cambaleiam. Conhecendo as fraquezas dos Puristas, os perseguidores pensam ter abatido três deles. Ninguém feito de carne e osso resiste ao poder pulverizador do laser. Mas os espécimes se erguem e lentamente os encaram de volta, cheios de ódio atrás de seus semblantes sem emoção.
O tiroteio recomeça. Nasier e o tenente fogem, protegidos pelos espécimes atrás de si. Alcançado as movimentadas passarelas, os cinco correm sob a chuva com suas armas em punho, assustando as pessoas ao redor.
Ao chegarem ao furgão, o tenente rapidamente levanta voo. Tiros atravessam a lataria e uma mensagem no painel indica que a porta traseira ainda está aberta. Ao olhar para trás, Nasier vê um dos espécimes agarrado na beirada da carroceria enquanto o veículo sobe perigosamente pelo ar. Pulando o banco, ele tenta puxá-lo de volta.
Os perseguidores estão logo abaixo e atiram no furgão. Um deles agarra a perna do espécime com sua mão robótica e tenta puxá-lo de volta. De repente ele vê o rosto de Nasier aparecer na traseira do veículo.
- Desculpe... – diz ele apontando uma arma para sua cabeça. – Nós não andamos com ciborgues.
O líder atira e o perseguidor se solta.
Abaixo, os Trans-humanistas assistem impotentes o furgão ir embora sob as infindáveis gotas de chuva.

Voltando ao corredor, os Trans-humanistas encontram uma sala escura com sangue por toda parte. Na parede eles veem um homem pregado de braços abertos e sem as pernas, formando um “Y”. Era o informante. Atrás dele eles veem um círculo desenhado com o sangue e o óleo da vítima. Eles entendem a mensagem. Eles reconhecem aquela macabra exibição de horror. Os assassinos quiseram deixar um recado.
O homem na parede representava o símbolo da Resistência Purista.

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