segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Uma Breve Compreensão do Universo





Certo dia, enquanto dirigia em uma bela tarde de sol, tive um pensamento sobre a energia, as leis da física e a matéria. Nisto, eu acabei por pensar nas leis físicas do universo.

Isaac Newton, em seu livro Principia, deduziu as três leis fundamentais da física, das quais revolucionaram para sempre a ciência no mundo. Estas leis são:

  1. Lei da Inércia; tendência que os corpos possuem em permanecer em seu estado natural de repouso ou em movimento retilíneo e uniforme.
  2. Lei da Força Resultante; também conhecida como Princípio Fundamental da Dinâmica, uma vez que é a partir dela que se define a força como uma grandeza necessária para se vencer a inércia de um corpo.
  3. Lei de Ação e Reação; descreve o resultado da interação entre duas forças, pois para toda ação (força) sobre um objeto existirá uma reação (força) de mesmo valor e direção, mas com sentido oposto.
(Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/fisica)

Considerando que nosso universo 4D (latitude, longitude, profundidade e tempo) seja composto pelos elementos da tabela periódica, que quanto maior a massa, maior a gravidade, e que a gravitação em si seja uma forma de energia, deduz-se que, em relação a este planeta, a aplicação destas leis seja idêntica.

Observei que a massa (matéria), de acordo com Newton, tende a ficar em repouso (inércia). Apesar da massa conter o potencial gravitacional e energético, ainda assim seria necessária uma ação para fazê-la se mover. Neste caso, para ocorrer tal ação, a força aplicada deveria ser o produto de sua massa pela aceleração (segunda lei de Newton), o que acarretaria em uma reação, onde entraríamos na terceira lei de Newton. 

Se pensarmos bem, veremos que tudo no mundo está intimamente ligado a essas três leis. Newton, ao deduzi-las, obviamente não as havia criado, mas com grande reflexão e empenho, pôde observar este fato tão evidente, porém tão complexo de ser descrito.

A Energia, tão presente e evidente no universo, é um conceito infinitamente superior a ser explicado, da qual a considero menos científica e muito mais filosófica. “O que é Energia?” eu frequentemente me pergunto. E por não poder ser explicada pela ciência e filosofia, acaba por cair (ou mesmo voltar) ao campo do fideísmo, ou seja, a Religião.

Seriam o bem e o mal forças atuantes em uma humanidade inerte deficiente de direção?  

“As forças do bem e do mal, entidades e divindades, a influência dos astros, o significado das estrelas e dos planetas...”. Voltando para o mundo material (e, portanto, físico), o que a humanidade criou para se adequar, explicar ou mesmo conter essas forças naturais e infinitamente superiores definidas por Newton? 

Em 1782 a.C foi criado o famoso Código de Hamurabi, uma compilação de 282 leis da antiga Babilônia (atual Iraque). Hamurabi, sendo o sexto rei da Babilônia e fundador do primeiro império babilônico, tinha por intenção promover a justiça e a estabilidade de seus domínios. De sua legislação, talvez a mais conhecida foi a famosa Lei de Talião, sendo esse o ponto principal e fundamental do código.

Lei de Talião (do latim Lex Talionis) significa “como tal” e “idêntico”, baseando sua pena na reciprocidade e proporcionalidade do crime sofrido. É frequentemente simbolizado pela expressão “olho por olho, dente por dente”. Mesmo o termo Talião deriva o atual “retaliação”, atribuído à vingança contra o ofensor. Mas, diferente do que se pensa, a Lei de Talião foi criada para impedir as pessoas de fazerem justiça com as próprias mãos, de maneira desproporcional à ofensa. Para tanto, muitos delitos tinham sanção punitiva no talião, evitando-se assim que as pessoas se vingassem. Seu fundamento era o “tal crime, tal pena” onde o “taliter”, ou seja, talmente, recebia de maneira igual o dano causado ao outro.
(Fonte: http://www.infoescola.com/historia/codigo-de-hamurabi/)

Ora, há quase 4000 anos atrás os babilônicos já compreendiam o conceito vingança e justiça, sendo, portanto, necessário a criação de um código (ou legislação) que aplacasse o mal não julgado de perturbar a paz, desestabilizar a ordem e consumir a sociedade. Ou seja, os babilônicos compreendiam que para cada ação havia uma reação.     

A Torá, ou Lei de Moisés, escrita de 1400 a 1300 a.C, porém tendo como fundamento os mandamentos transmitidos por Deus desde o fim do dilúvio (Sheva Mitzvot B'nai Noah ou Sete Leis de Noé), contém claras semelhanças à Lei de Talião. A seguir um quadro comparativo:


(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_Hamurabi)    

Outro exemplo:

Texto I: Artigos do Código de Hamurabi

— Se um homem furar o olho de um homem livre, furar-se-lhe-á um olho.
— Se ele fura o olho de um escravo alheio ou quebra um membro ao escravo alheio, deverá pagar a metade do seu preço.
— Se um arquiteto constrói uma casa para alguém, porém não a faz sólida, resultando daí que a casa venha a ruir e matar o proprietário, este arquiteto é passível de morte.
— Se, ao desmoronar, ela mata o filho do proprietário, matar-se-á o filho deste arquiteto.
(AQUINO; FRANCO; LOPES, 1980, p. 114).

Texto II: Extratos da Lei Mosaica

— Se um homem der um soco no olho do seu escravo ou da sua serva, e, em consequência, eles perderem esse órgão, serão alforriados como compensação.
— Não se punirá o homicida antes de ouvidas as testemunhas. Ninguém será condenado pelo testemunho de um só.
— Aquele que ferir seu pai ou sua mãe será punido de morte.
— Aquele que ferir um dos seus concidadãos será tratado como o tratou: receberá fratura por fratura e perderá olho por olho, dente por dente.
(ARRUDA, 1981, p. 98).

(Fonte: http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/lei-mosaica-codigo-hamurabi)

Em ambos os casos, paga-se o mal com o mal. Mas, avançando no tempo, esta lei universal de causalidade ainda estaria presente no mundo moderno?

Em algumas gangues latinas da América Central e do Norte há um código de gangue, uma tradição oral, da qual seus membros chamam de “sangue por sangue”. Esse código, contraditoriamente sendo uma lei entre criminosos, consiste basicamente na Lei de Talião, ou seja, se alguém matar o irmão de outro membro, o irmão do primeiro deverá morrer. Se for o pai, então o pai do outro deverá morrer, se for o primo, então o primo do outro deverá morrer, e assim sucessivamente. Obviamente esse código abrange muitos outros círculos sociais, além das barreiras raciais, geográficas e étnicas, mas o fato é que ele continua sendo uma aplicação da lei universal, a lei de ação e reação.

Hitler, ao mobilizar o exército da Alemanha para invadir a União Soviética, praticou uma ação, trazendo o mal sobre si. Incapazes de resistir ao avanço alemão, por muito tempo os russos não puderam conter esse mal, até que, em determinado momento, tudo mudou. Impedidos de continuar devido ao clima, à logística e outros fatores, os alemães foram contidos no Rio Volga, tendo seus ataques resistidos bravamente. E foi então que os russos contra-atacaram, ou seja, praticaram uma reação. Com a Operação Urano eles cercaram a Wehrmacht, tomaram a ofensiva do front oriental e repeliram os invasores, empurrando-os de volta à Alemanha.

O mal teve resposta, a ação foi recebida com uma reação. Mas, alcançado o objetivo e consumada a sua vingança (sendo este o maior estupro em massa ocorrido na história), os russos, sob o comando do politburo soviético, intentou prolongar este mal, desequilibrando o mal equalizado e novamente praticando-o, desta vez pela própria Rússia. Eles intentavam invadir o ocidente europeu.

Entretanto, ao depararem-se com os exércitos aliados liderados pelos Estados Unidos, tiveram seu ímpeto contido no centro da Europa. Este foi o início do período de maior divisão no mundo moderno, conhecido como Guerra Fria. E o que foi a Guerra Fria além da equalização de forças opostas e conflitantes, porém equilibradas entre si?

Comparando-a com as leis de Newton, vemos a lei da inércia (União Soviética em “repouso”), a lei de força resultante (Alemanha força uma invasão) e a lei de ação e reação (União Soviética responde de maneira idêntica e em igual intensidade). Segundo Newton, na física há a teoria de que, se as forças opostas e conflitantes tiverem a mesma proporção, o corpo entrará em equilíbrio. A resistência e oposição dos aliados em relação aos russos exemplifica este equilíbrio.

Certa vez o filósofo Olavo de Carvalho disse que quando alguém o agride e você não reage, automaticamente você está lhe dando permissão para agredi-lo novamente. Ele não poderia estar mais certo. Se o agressor agredir e o agredido não fizer nada, o mal causado seguirá livremente e mais forte, uma vez que não houve resistência ou contenção. Desta forma o mal poderá ser repetido no agredido, ou até mesmo estendido aos seus bens, seus amigos e até à sua família. Quão terrível é a consequência e o dano quando o mal age livremente! Ao permitir que o mal se alastre livremente você está se eximindo do direito de existir.

Entretanto, quando praticamos o mal ele pode ser perdoado? É claro que sim, porém haverá consequência.

O Rei Davi tomou a esposa de seu amigo Urias, Bate-Seba, e ambos praticaram o adultério. A mulher engravidou e, para ocultar o ocorrido, o rei arquitetou a morte de seu amigo, enviando-o para morrer na guerra. Ao ser descoberto através de Deus pelo profeta Natã, Davi se arrependeu. Mesmo perdoado, o rei não saiu ileso do adultério e teve o seu filho, o mesmo gerado por Bate-Seba, morto ao passar de dias (1 Samuel 11 e 12). O mal foi praticado e, mesmo perdoado, não saiu sem castigo. Ação e reação.

Em outras palavras, deste mundo não sairemos sem punição.  

E quanto ao Novo Testamento, o que ele tem a dizer a respeito? Em Lucas 6:29 diz:

Se alguém bater em você numa face, ofereça-lhe também a outra. Se alguém tirar de você a capa, não o impeça de tirar a túnica”.

Oferecendo a outra face, não estaríamos nós permitindo que o mal avançasse e nos eximindo também do direito de existir? Em uma interpretação pessoal, não. No Antigo Testamento vigorava a Lei de Moisés, aquela bem parecida com a Lei de Talião, ou seja, quando o mal era praticado, ele era julgado, divinamente ou não. Mas no Novo Testamento, com a morte e ressurreição de Cristo, cumpriu-se a profecia e se iniciou o tempo da Graça. Esta passagem bíblica retrata que ao fazermos o bem, também receberemos o bem de volta. Não apenas o mal é válido na lei de ação e reação. Diferente da lei mosaica, ao perdoarmos e, assim, transferirmos nossas ofensas a Cristo, estaremos cumprindo seu verdadeiro propósito de juiz e redentor da humanidade, nos justificando perante o Pai. Em Mateus 5:6 diz:

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”.

E em Romanos 12:19 a 21 diz:

Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: "Minha é a vingança; eu retribuirei", diz o Senhor. Ao contrário: "Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas
sobre a cabeça dele". Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.

No Budismo e Hinduísmo há a noção de Karma. Para eles, o carma é um termo que significa ação. No budismo é usado para as ações que venham de intenções ou obsessões mentais. Estas ações trazem como consequência um fruto ou resultado, seja na vida presente ou em uma vida futura. Carma é a consequência, a reação, o impulsor do ciclo de renascimentos (samsara) para cada ser.

Dhammaniyama, ou lei de natureza da causa e efeito, pressupõe que tudo no universo está sujeito a esta lei. Uma ação, palavra ou pensamento é uma forma de criar uma causa. O efeito corresponderá à causa praticada, sendo ela boa ou má. No canon Pali (língua litúrgica utilizada na escola Teravada do budismo), Buda cita:

“Eu sou o dono das minhas ações (kamma), herdeiro das minhas ações, nascido das minhas ações, relacionado através das minhas ações e tenho as minhas ações como árbitro. O que quer que eu faça, para o bem ou para o mal, disso me tornarei o herdeiro”.

Desta forma, ao gerar o carma os seres ficam presos ao ciclo de reencarnações (samsara). A última meta da prática budista (e, portanto, hinduísta) é extinguir o carma, desse modo libertando-se do ciclo de reencarnações.

Sendo bom ou mal, a intenção é gerada na mente e então consumada na ação, transformando-se em carma. Pode-se atribui-lo também ao Kammaniyama, a lei do carma que determina o bem-estar humano, estando diretamente relacionado ao comportamento humano sob a perspectiva da ética.
(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carma_(budismo))

Traçando um paralelo entre Newton, o budismo, a história da humanidade e a Bíblia, é possível chegar a uma conclusão de que o conceito de ação e reação vai além do matemático, científico, físico e energético, é uma Lei Universal. E, sendo universal, transcende totalmente as camadas da matéria e do espírito, para um patamar mais alto do qual a humanidade ainda não tem domínio: o metafísico.


- Eduardo Domingues



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