segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Roupas



Adoro roupas com bolsos
Mas os uso pouco

Minha calça comprei dois anos atrás
A princípio eu a usava para sair
Então ela começou a desbotar
E passei a usá-la para trabalhar

Minhas meias brancas estão alargando
Estão velhas mas sem furos, no entanto
Percebo que o elástico já está largo
Mas são minhas melhores meias apesar do estrago

As meias são finas para usar com os sapatos
Esses sapatos pequenos que eu comprei errado
E que agora deixam meus pés apertados
Ainda bem que já estão gastos

Minha blusa azul era bonita e elegante
Cor intensa com letras brancas e grandes
Mas não tinha capuz
E no frio meus ouvidos doem
Então passei a usá-la para andar de moto
Mas o tecido poliéster é fino e passa todo o vento
E vai me esfriando todo por dentro
A uso para me aquecer mas não há retorno
Maldita blusa imbecil que só me dá transtorno

Minha camisa é patética
Sem a menor noção de estética
Azul pintando um tecido grosso de algodão
De aparência velha, sem muita atenção
A gola e as linhas são brancas
Faixas nos ombros que vão até as mangas
Essas faixas me delimitam muito
E deixam meus ombros mais curtos
Parecendo eu ser menor do que já sou

Também poderia falar de minha roupa de baixo
Cueca, esse termo feio e um pouco crasso
Nela há muitos detalhes e adjetivos
Mas falar disso me deixaria constrangido

Em frente ao espelho eu vejo as roupas como um todo
Essa massa inorgânica envolvendo todo o meu corpo
Roupas velhas, desproporcionais e sem sentido
Sem estilo, me deixando mal vestido

Essas roupas são feias, como elas me deixam feio
E então as odeio por me colocar nesse meio
Mas eu subo o olhar para o meu rosto
E então eu tenho um grande espanto
Olhando para o resto do meu corpo
Sem querer eu penso:
“Seriam as roupas feias?”
“Ou o verdadeiro feio sou eu?”

Roupas
A expressão externa de nossa estética
Tecidos, fios e costuras, natural ou sintética
Poderá a roupa te deixar bonito se sua mente não estiver bonita?
Variando a beleza
Pelo estado da mente?

E onde estão nossos pensamentos?
No que é agradável e bonito?
Ou no que é feio e ridículo?

Ninguém pode ser bonito por fora sendo feio por dentro
As roupas são só parte desse tratamento
Ninguém pode ser quem não se pode ser
Porque ninguém é o que não é
A roupa é só uma máscara que usamos
Para fingir ser quem não somos

Foi então que eu percebi
As pessoas que se vestem feio
São mais verdadeiras
Que as pessoas que se vestem bonito
Porque a beleza, como qualquer beleza
É uma maquiagem
Que pode ser feita, retocada, retirada e então feita novamente
Os falsos se escondem com esses componentes
Mas na feiura
No poder destrutivo da amargura
Que rouba nosso brilho na opressão da penúria
Não temos escolha

Somos feios
Grande é minha desilusão
Eu sou feio
É ainda maior minha contemplação
Todas as vezes que me visto sem pensar
É meu corpo expressando
O que minha mente tenta falar
E como é grande o clamor dentro de mim

Desanimado, eu desvio o olhar do espelho
E escondo minha desilusão dentro de mim mesmo
Então eu me afasto e vou embora
Pois não quero pensar nisso agora


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