Quando eu falo com ela
Nas redes sociais, aplicativos ou mensagens
Ela sempre corrige meus erros de escrita
Com sua formidável e perfeita ortografia
Ela é tão inteligente
E quanto mais fala mais isso fica aparente
Mas ela não gosta quando escrevo com negligência
Pois diz que são abreviações desnecessárias da língua portuguesa
Às vezes isso muito me incomodava
Mas ela nunca se importava
Dizia que se estivesse corrigindo um cálculo matemático
Eu não ficaria tão irritado
Ela disse que gostaria de ser professora
Ou qualquer outra coisa na área de Humanas
Para uma garota tão delicada e inocente
Ter aula com ela seria como ganhar um presente
Ela tem tantos sonhos
Dos mais variados tamanhos
Dizia que queria viajar pelo mundo
E queria experimentar um pouco de tudo
Eu a perguntei como ela gostaria de morrer
Ela achou a pergunta estranha e difícil de responder
Mas de maneira alegre e quase por instinto
Ela simplesmente disse:
“Sorrindo”
Certa vez eu lhe disse que a amava tanto
E seu olhar revelou grande espanto
Então a perguntei se ela sentia o mesmo por mim
E sua resposta foi um olhar misterioso, uma retórica sem fim
Eu sempre sonhava com ela
Queria que sua presença fosse eterna
Com ela eu podia falar sobre qualquer coisa
Com ela a vida nunca se tornava insossa
Certa noite eu a convidei para jantar
No melhor restaurante que eu podia pagar
Era tão bom quando ela conversava
Pois parecia que o tempo parava
A noite estava movimentada e chuvosa
E tornava a direção muito perigosa
Um carro invade a contramão
E viro o volante rápido, perdendo a direção
O carro derrapa e desce pelo barranco
A visão fica confusa, sempre girando e girando
O carro para virado à beira da estrada
E ao olhar para o lado a vejo desacordada
Ela morreu naquele acidente
Sem jamais realizar seus sonhos inocentes
Sangue escorre de seus cabelos e de seu rosto tão lindo
Ela não pôde morrer como quis, sorrindo
Isso foi há um ano
E daquela noite continuo lembrando
Ver a mulher da minha vida morrer
Não é algo que eu consiga esquecer
E sentado aqui, olhando para o horizonte inclemente
O sol vai embora sob a tênue luz do poente
Faço algo estranho, até um pouco idiota
É a única maneira de por a saudade para fora
Eu mando mais mensagens para você
Na inútil esperança de você responder
Palavras abreviadas do jeito que você odeia
Esperando inutilmente que você as leia
Mas você nunca leu
Nenhuma mensagem você respondeu
Meus erros de escritas jamais serão corrigidos
Porque eles jamais serão lidos
E desde então sigo pensando
Odiando a vida, ainda me martirizando
Sem conseguir suportar uma dor assim
Olho para o céu e pergunto:
“Deus, por que o Senhor não levou a mim?”
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