sábado, 22 de junho de 2024

Calças Jeans no Japão


 

Minha tia me disse

Que não eram comuns calças jeans no Japão

Lá eles usavam de outros tecidos

Tanto no inverno quanto no verão

 

Cheguei há pouco tempo

Estou muito feliz em viver aqui

Alguns me disseram que não era difícil

Empreender nesse país

 

Então eu tive a ideia

De abrir uma loja e vender calças jeans

Apenas quis trazer para os brasileiros

Gaijins nesse país estrangeiro

Um pequeno gosto do nosso Brasil

 

Então uma moda surgiu

Deve ter sido de um filme

Ou de um seriado de TV

Os atores usavam calças jeans nas filmagens

E os japoneses logo quiseram imitar as personagens

 

Enquanto isso eu trabalhava a todo instante

Aqui o trabalho era constante

Sobreviver tem um custo exorbitante

E desse filme ou seriado que falavam por aí

Confesso que nunca tive tempo de assistir

 

Mas enquanto eu arquitetava os meus planos

De uma mulher eu vinha me lembrando

 

Eu conheci uma garota fantástica

Amor intenso

Beijo apaixonado

Me disseram que estávamos indo muito rápido

Mas eu já estava gamado


Seus olhos brilhantes e reluzentes

Personalidade forte e independente

Ela tinha um sorriso maravilhoso

E um rosto lindo

Que me deixava louco

 

Como eu gostava dessa moça

Minha gatona ariana

Tinha um jeito sincero e um pouco ríspido

Ora carinhosa

Ora grossa comigo

Mas eu não me importava 

Pois era do signo daquela gata

 

Mas, por outro lado

Eu não estava preparado

 

Antes de assumir um compromisso

Eu precisava amadurecer

Pois a mente vai do lado oposto do coração

Emoção e sentimento sempre se opõem à razão

 

Eu tive uma decisão difícil a fazer

E tive que terminar um relacionamento

Cujo amor já começara a aparecer


Confesso que até hoje nunca entendi

Porque uma mulher tão independente

Ultimamente precisou de mim

Mas para minha surpresa ela disse

Que precisava sim

E foi só eu que não percebi

 

Ela ficou no Brasil

Meu amor ficou mas meu corpo partiu

Ela nunca foi de voltar atrás em sua decisão

Essa garota linda eu perdi

Um erro amargo eu cometi

Mas até hoje ela mora em meu coração

 

Eu finalmente empreendi

E calças jeans eu vendi

Fiz sucesso na minha loja

Não foi minha intenção começar uma moda

Mas o seriado que falavam tanto

Era popular em todo canto

 

Na loja eu não pus um nome bonito

Mas o jeans virou moda e eu precisava mudar isto

Decidi dar um nome forte para o povo ver

Um nome que meu coração jamais iria esquecer

 

Então no letreiro eu escrevi

Sem hesitar um segundo, eu escrevi

---

O nome da minha paixão

O signo de áries em sua perfeição

 

Eu me encho de satisfação

Era como se ela estivesse parada ali

Ao meu lado abraçada

Com sua moto estacionada

Me acompanhando na calçada

 

No Brasil eu conheci uma garota fantástica

Que me fez perder o rumo

E mesmo estando do outro lado do mundo

Eu penso nela em todo segundo

 

Minha gatona

Minha brincalhona

Minha independente

Minha ariana

 

domingo, 26 de maio de 2024

Mais Um Morto no Mar


O mar é tão bonito

Tão calmo e pacífico

Sobre as ondas reconfortantes

Me confortando a todo instante

 

O sol brilha a tarde inteira

Famílias se reúnem na areia

Os vendedores com chapéus de palha

Um clima agradável na praia

 

Nas pranchas velozes

Nos jet skis o esporte

Nos barcos de pescadores

Na proa os velejadores

 

Nos petroleiros gigantes

No convés os estivadores

Nos iates luxuosos

Nos cruzeiros vultosos

 

Os mergulhadores nas profundezas

Os peixes nas correntezas

Mas nem tudo é calmaria

Nem tudo é beleza

 

Há tempestades tenebrosas

E ondas tempestuosas

Tsunamis nas cidades costeiras

Devastação em áreas inteiras

 

Mortos por afogamento

Nas praias ou mar a dentro

Marinheiros mortos nas guerras

Desde a antiguidade até as guerras modernas

Mortos por naufrágios

Condenados a um destino trágico

 

Titanic

As 1.500 vítimas

Naufragadas no Atlântico Norte

Pais, mães e filhos

A agonia de ver suas crianças submergindo

“Nem Deus afunda o Titanic”

Pois enviado foi ao abismo

Às profundezas do mar gelado

Tão fria quanto o coração do diabo

 

Bismarck

Alemães moribundos

Condenados ao naufrágio

Os ingleses receberam ordens para não os resgatar

O navio virava

E então afundava

Os alemães subiram pelo casco para evitar se afogar

Mas todos pereceram juntamente

Até ninguém mais respirar

 

Diz o Apocalipse 20:13 que o mar devolverá os seus mortos

Aqueles que nunca voltaram aos seus portos

Retornarão de sua fatídica hora

Para serem julgados, cada um segundo as suas obras

 

Na mitologia

Kraken da mitologia grega

E também na mitologia nórdica

 

Na Bíblia

Leviatã do livro de Jó, capítulo 41

Versículos 1 ao 34

 

Na literatura

Moby Dick de Herman Melville

A lula gigante de Júlio Verne

 

Seja na Bíblia, mitologia ou literatura

O mar sempre esteve associado

A um abismo aquático de horror e penúria

 

Eu entro no navio

Um presságio ruim anuncia o meu destino

O mar agitado

O vento gelado

O mau agouro

Me acompanhando ao meu lado

 

A tempestade outrora distante

Avança a todo instante

O navio segue cambaleante

Fustigado pelas ondas gigantes

As ondas inundam o convés

Nesse momento eu perco a minha fé

 

Como se todos os demônios do submundo

Arremetessem contra o navio

As ondas viram o casco

E o pânico se alastra por todos os lados

 

Botes salva-vidas salvam uns poucos

O resto fica para morrer aos poucos

Entre as almas que ficam para encarar a morte

Eu fatidicamente encontro o meu nome

 

O navio da condenação se afundava

O mar da morte nos tragava

Sem encontrar salvação

Meus pulmões se enchem de água

Pulmões que ardem em intensa tortura

A consciência se enfraquece e se torna turva

Lá embaixo as trevas parecem me chamar

Meu túmulo aquático estava a me aguardar

 

Meu corpo nunca será encontrado

Meu destino já estava selado

Ali Deus me abandonava

O deserto líquido minha alma clamava

 

As ondas negras irão me sepultar

Nas profundezas do oceano atroz eu irei repousar

Meus olhos finalmente se fecham

E a respiração dos meus pulmões cessam

 

De todos que no mar morreram

Ironicamente eu percebo

No mar a morte veio me levar

Acabando por eu me tornar

 

Mais um morto no mar

 

 

domingo, 12 de maio de 2024

Quem Atender ao meu Funeral


(Artista desconhecido)


Quem atender ao meu funeral

Irá contemplar a brevidade da minha existência

Enquanto a terra me engole

E suas pás me encerram no túmulo

 

Cada um que carregar o meu caixão

As alças geladas em suas mãos

Contemplará com grande pena

A brevidade da própria existência

 

Falhamos em construir um paraíso na terra

A religião perfeita

Com sua moralidade inexorável

Mas aos homens igualmente impraticável

 

Falhamos em implantar o paraíso na terra

A ideologia infalível

Com sua divisão de riquezas e classes

Mas que trouxe tirania, fome e extermínio

 

Todos nós nos rejeitamos mutuamente

Ninguém quer ninguém

Todos querem ser mais do que alguém

E no festival de soberba e rejeição

Todos acabamos na solidão

 

Eu amava tanto o riso

Nos meus últimos dias

Eu vivia sempre sorrindo

O calor da alegria em meu rosto

O brilho no olhar dos outros

Gostaria de viver isso de novo

Mas meu desejo fora lançado em um fosso

 

Eu amava tanto as minhas amigas

Não éramos jovens

Mas quando ríamos, nos divertíamos

E juntos convivíamos

Nos tornávamos jovens

Como um feitiço ou um encantamento

Fruto dos bons sentimentos

Que eram a alegria, a amizade

E o amor

 

Que saudade eu tenho delas

Como eu queria voltar e abraça-las mais uma vez

Rir com elas mais uma vez

Mas eu fui arrogante

E decidi lhes dar as costas

E ultimamente ir embora

Porque assim são os adultos

Vivem, amadurecem e saem pelo mundo

E se esquecem de quem os amou muito

Pois todos temos nossos problemas para resolver

Planos para realizar

E também sobreviver

 

A esperança é a última que morre

Mas eles omitem em dizer que

Eventualmente

Ela morre

E em meu último - e único - passeio de caixão

A tampa cobre meu corpo com a escuridão

Ali eu vejo a tal esperança na minha extinção  

 

Quem atender ao meu funeral

Verá meu cadáver aninhado no caixão

Como um filho no útero

Quando vem ao mundo

Embora nem todos sejam queridos por suas mães

A cova, por sua vez, não rejeita ninguém

Recebe a todos com carinho

Como uma mãe ao contrário

Que ao invés de dar a vida

Prontamente a tira

E isso muito me anima

Receba-me, ó mãe

Em seu funesto útero

Meu tão desejado túmulo

 

Prazer inestimável é ouvir

Os golpes de pá na terra

Os sons da mesma caindo na tampa de madeira

Isso anula toda a minha tristeza

Não tenho mais nada para provar

Sonhos para realizar

Frustrações para lidar

Está tudo acabado

Um sorriso sem vida se forma

Em meu rosto gelado

 

Logo os olhos do meu espírito se fecharão

E se abrirão novamente no inferno

Meu destino parece certo

Eu o aceito com resignação

Pois talvez lá embaixo eu encontre a reconfortante

E também aconchegante 

Redenção

 

sexta-feira, 19 de abril de 2024

E Então Eu a Deixei Ir


 


Eu vi uma mulher de cabelos longos e morenos

Em uma rua muito movimentada

Carros, motos, bicicletas

E pessoas pelas calçadas

 

Essa mulher estava de costas

E parecia ser a minha mãe

Distraída ela caminhava

Ela parecia levar uma bolsa pesada

Nos seus braços uma criança de colo

 

Poderia ser seu filho com seu novo marido

E a bolsa eram as coisas para o recém nascido

De qualquer forma em sua nova família

Minha pessoa não estava incluída

 

Minha mãe ia embora

E atrás eu tentava alcança-la

Mas ela estava muito rápido

Ela não estava correndo

Mas era como se cada passo

Fossem rápidos como um raio

 

Eu me esforçava

Mas minhas pernas estavam pesadas

Como se houvessem pesos e amarras

E eu a chamava

Mas meus gritos ela ignorava

 

A distância aumentava

A dor me torturava

Ela sequer olhou para trás

Comigo ela não se importou mais

 

Nesse momento eu sofri

Minha esperança eu perdi

Lágrimas saíam em ebulição

Pedaços espalhados do meu coração

 

Eu sei que ela partia

Para ser feliz com sua nova família

Uma que deu seus erros a redimia

E que a faria feliz um dia

 

Cansado de ser atrapalhado pelas pessoas

Pelos carros, bicicletas e pelas crianças

Ignorado nos meus gritos

Que pareciam não serem ouvidos

Eu parei de tentar alcança-la

E também de pateticamente chama-la

 

E no maior abatimento que minha alma já sofreu até aquele dia

Respirei fundo a minha derrota

E reconheci com muito pranto

Que ela queria muito ir embora

 

Então eu decidi parar de seguir

E finalmente eu a deixei ir