Quem atender
ao meu funeral
Irá contemplar
a brevidade da minha existência
Enquanto a
terra me engole
E suas pás me
encerram no túmulo
Cada um que
carregar o meu caixão
As alças
geladas em suas mãos
Contemplará com
grande pena
A brevidade
da própria existência
Falhamos em
construir um paraíso na terra
A religião perfeita
Com sua
moralidade inexorável
Mas aos
homens igualmente impraticável
Falhamos em
implantar o paraíso na terra
A ideologia infalível
Com sua
divisão de riquezas e classes
Mas que trouxe
tirania, fome e extermínio
Todos nós nos
rejeitamos mutuamente
Ninguém quer ninguém
Todos querem
ser mais do que alguém
E no festival
de soberba e rejeição
Todos acabamos
na solidão
Eu amava
tanto o riso
Nos meus
últimos dias
Eu vivia
sempre sorrindo
O calor da
alegria em meu rosto
O brilho no
olhar dos outros
Gostaria de
viver isso de novo
Mas meu
desejo fora lançado em um fosso
Eu amava
tanto as minhas amigas
Não éramos
jovens
Mas quando
ríamos, nos divertíamos
E juntos
convivíamos
Nos tornávamos
jovens
Como um
feitiço ou um encantamento
Fruto dos
bons sentimentos
Que eram a
alegria, a amizade
E o amor
Que saudade
eu tenho delas
Como eu
queria voltar e abraça-las mais uma vez
Rir com elas
mais uma vez
Mas eu fui
arrogante
E decidi lhes
dar as costas
E ultimamente
ir embora
Porque assim são
os adultos
Vivem,
amadurecem e saem pelo mundo
E se esquecem
de quem os amou muito
Pois todos
temos nossos problemas para resolver
Planos para
realizar
E também sobreviver
A esperança é
a última que morre
Mas eles
omitem em dizer que
Eventualmente
Ela morre
E em meu último - e único - passeio de caixão
A tampa cobre
meu corpo com a escuridão
Ali eu vejo a
tal esperança na minha extinção
Quem atender
ao meu funeral
Verá meu cadáver
aninhado no caixão
Como um filho
no útero
Quando vem ao
mundo
Embora nem todos sejam queridos por suas mães
A cova, por
sua vez, não rejeita ninguém
Recebe a
todos com carinho
Como uma mãe
ao contrário
Que ao invés
de dar a vida
Prontamente a
tira
E isso muito
me anima
Receba-me, ó
mãe
Em seu
funesto útero
Meu tão
desejado túmulo
Prazer inestimável
é ouvir
Os golpes de
pá na terra
Os sons da
mesma caindo na tampa de madeira
Isso anula
toda a minha tristeza
Não tenho
mais nada para provar
Sonhos para
realizar
Frustrações para
lidar
Está tudo
acabado
Um sorriso
sem vida se forma
Em meu rosto
gelado
Logo os olhos
do meu espírito se fecharão
E se abrirão
novamente no inferno
Meu destino
parece certo
Eu o aceito
com resignação
Pois talvez lá
embaixo eu encontre a reconfortante
E também aconchegante
Redenção
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