quinta-feira, 2 de maio de 2019

Sonata - Parte 41 - Conspiração Contra os Conspiradores



De volta ao Submundo, Nathan e Vertigo conversam com Database em sua sala. Olhando para o monitor na parede, o rapaz vê o líder da 4 de Julho, o General Washington, agradece-los pelo pagamento. O general pergunta:
“Espero que meus canhões tenham funcionado bem”.
Database responde:
- Eles funcionaram. O templo da Bushido ficou em ruínas.
Sorrindo, o general diz:
“Ótimo. Fico feliz em saber que meu equipamento fez Tokugawa sofrer”.
- Os canhões não te farão falta no futuro, general?
“Não” responde ele. “Os samurais precisavam deste pequeno acerto de contas depois do que eles nos fizeram há um ano. Estou muito satisfeito”.
- Agradeço sua cooperação. Até a próxima.
“Até a próxima, Database. Foi um prazer fazer negócios com você”.
Nathan se felicita. O plano deu certo, os samurais caíram na armadilha. Utilizando o equipamento dos americanos, eles secretamente instalaram canhões no território da Bushido. Dirigindo viaturas roubadas e vestindo uniformes falsos, os runners se vestiram de policiais, enganando-os perfeitamente. Obtendo o sucesso, os samurais se aliaram ao Submundo, juntando-se à sua causa.
Database os parabeniza. Animado, ele os oferece seu refinado uísque.
- Tiveram problemas para convence-los? – pergunta ele.
- Não... – responde Nathan, sarcasticamente – Eu quase perdi a cabeça, mas fora isso, foi tudo bem.
- Sabíamos do risco. Como você mesmo disse, precisamos do apoio da Bushido. Sem eles, a rebelião se prolongará.
- Eu quase fui decapitado.
- Pensei que já estivesse acostumado a arriscar sua vida... “Salvador de Sonata”. – diz ele, referindo-se a sua irresponsável ida para a Cúpula Corporativa.
Vertigo comenta:
- Os samurais se aliaram a nós. Com eles, agora poderemos montar uma melhor estratégia.
- Falando em estratégia, como convenceu os Trans-humanistas a se aliarem a nós, Vertigo?
Confuso, o hacker responde:
- Convencer? Eu não os convenci, eles decidiram se aliar por si mesmos, Database.
- Simples assim?   
O chefe não acredita nele, não importa o que ele diga.
- Sim.
- Mesmo após a explosão de uma bomba em seu território, destruindo o terraço inteiro de uma megatorre, ainda assim eles decidiram se aliar a nós?
Desta vez, é Vertigo quem desconfia.
- Foi você quem detonou a bomba, Database?
- Não. – responde ele – É claro que não. Os mecanicistas já têm inimigos o suficiente para fazer isso.
Então a desconfiança se torna mútua. O hacker então diz:
- Vocês querem saber o que isso me parece? Que nessa teia de esquemas e favores, segredos e mentiras, nos assemelhamos ao nosso inimigo. Que atrás dessa cortina de ideais revolucionários e causas ideológicas, abandonamos nossos princípios e valores pelo único objetivo de vencer. É claro, as corporações têm um plano hediondo, mas nós também adotamos seus métodos, agindo da mesma maneira obscura e egoísta. Entre nós mesmos tramamos conspirações, para ultimamente combater os conspiradores.  
As palavras de Vertigo são verdadeiras e os fazem refletir. Entretanto, Nathan interrompe a reflexão para dizer:
- Eu não me importo quem conspire desde que a rebelião termine.

§

Após a reunião, Nathan deixa o Submundo. Sentado em uma plataforma entre os prédios, ele bebe seu refrigerante. As tubulações soltam vapor, deixando o ambiente úmido. As ruas lá embaixo fazem barulho, irritando seus ouvidos. Aquela era mais uma noite típica na superfície.
Ocupado em seus pensamentos, ele ouve alguém se aproximar. Incomodado, ele não se dá ao trabalho de virar sua cabeça para ver quem era. Naquele momento ele não queria ver ninguém. Mas, para sua surpresa, não era qualquer pessoa que se aproximava.
- Laura...? – se espanta ele.
Sentando-se ao seu lado, a garota responde:
- Olá, Nathan.
De todos as pessoas, dos níveis superiores à superfície, Laura era a última que ele esperava receber pessoalmente.
- Laura... Por que você está aqui?
- Não por um bom motivo, eu devo dizer. – adianta-se ela.
- Você sabe que eu estive te procurando por todo esse tempo, não é? Por que não respondeu às minhas ligações? Por onde você esteve?
A garota sorri. Em seu olhar ela diz: “você realmente acha que eu vou lhe dizer?”.
Mudando de assunto, ela pergunta:
- O que ouvi dizer sobre você é verdade?
Nathan se confunde.
- O que, exatamente?
- Quando esteve com os Clérigos do Recomeço, você realmente cometeu um atentado terrorista?
Pego desprevenido, o rapaz responde:
- Não! Não verdade, eu não sei. Eu fui enganado, me persuadiram a participar.
- Está dizendo que eles te persuadiram a participar de um atentado terrorista covarde, detonando uma bomba em um hospital cheio de inocentes? – pergunta ela, acusando-o.
- Mais ou menos. Quero dizer, não foi isso o que me disseram a princípio.
Mas quanto mais Nathan se explicava, mais ele se complicava em suas respostas. Laura, porém, era implacável em acusa-lo.
- Então te disseram que você iria detonar uma bomba, mas não onde?
- Algo assim.
- Não consigo acreditar que você fez isso, Nathan. Logo você, com seus discursos filantropos e altruístas, cometendo um atentado terrorista?
- Eu já disse que fui enganado! Eu não tinha a intenção de detonar nenhuma bomba.
- Tinha sim, você só não sabia onde os clérigos a detonariam.
Então o rapaz se cala. Laura continua:
- Até onde você está disposto a ir para acabar com essa rebelião, Nathan? Você realmente quebrará todas as regras para trazer a paz, adotando todas as táticas sujas das facções terroristas?
Irritando-se, o rapaz responde:
- Espere um pouco! Eu não sou nenhum terrorista imoral!
- Você traiu seus valores e princípios. Na verdade, sua única conduta agora é aquela que o ajudará a vencer a rebelião.
Nathan estava se cansando. Não foi daquele jeito que ele esperava reencontrar Laura. Entretanto, apesar de todos os acontecimentos, o rapaz ainda justificava-se em prol da salvação de Sonata. Ele se defende dizendo:
- Mas, antes de mim, você se aliou à Resistência Purista também. Na verdade, achei muito suspeito uma bomba explodir no território dos mecanicistas após eles sequestrarem o Vertigo.
Insinuando que Laura tivesse algo a ver com aquilo, ela responde:
- Por acaso está insinuando que eu explodi uma bomba no território dos mecanicistas?
- Você se aliou aos puristas para salvar seu amigo, lembra-se? E após o sequestro de Vertigo, você falhou ao encontra-lo. E de repente uma bomba se explode no território de seus arqui-inimigos. Eu disse que achei isso muito suspeito, não a acusei de nada. Isso quem faz é você.
Então Laura se irrita também.
- Você é muito patético se pensa que vai me enganar com suas suposições, Nathan. Você é irresponsável em tudo o que você faz. Primeiro o Vertigo é sequestrado, depois você comete um atentado terrorista e agora você retorna de uma incursão suicida na Cúpula Corporativa no meio de uma manifestação. Eu tenho pena de você.
O rapaz retruca:
- Tenha de si mesma com sua limitadíssima visão sobre tudo. Além de você, o Vertigo também fez uma aliança obscura com os facciosos. Vá lá e pergunte para ele como ele conseguiu convencer os Trans-humanistas a se aliarem a nós depois de terem sua base invadida e seu território explodido. Duvido que ele vá responder.
Agora Nathan insinua desconfiar de Vertigo. Sem querer admitir, ela compartilha dessa sensação também.
Após um minuto de desconforto e silêncio, a garota finalmente pergunta:
- Você detonou aquela bomba sim ou não?
Pesaroso, o rapaz responde:
- Sim.
- Isso era tudo o que eu queria ouvir.
Laura então se vira e vai embora. Nathan não vai atrás dela, ao invés ele diz:
- Eu fiz de tudo por você, Laura. Me humilhei, me arrastei e até sangrei para você gostar de mim. Mas você nunca me deu valor. – com lágrimas escorrendo em seu rosto, ele conclui – Pode ir, fique em paz, não precisa se esconder dessa vez. Eu não irei mais em sua casa procurar por você.
As palavras machucam a garota, mas orgulhosa demais para se virar, ela continua dolorosamente seu caminho. Nathan fica ali, sentado e chorando sozinho. Vendo a lata de refrigerante ao seu lado, ela a joga furiosamente no beco abaixo, triste e desanimado por ver sua vida se desmoronar.
Mas a garota, escondida em uma plataforma mais adiante, olha para trás procurando por Nathan. Ao vê-lo chorando à distância, lágrimas se escorrem em seu rosto também.

  

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