De volta ao
Submundo, Nathan e Vertigo conversam com Database em sua sala. Olhando para o
monitor na parede, o rapaz vê o líder da 4 de Julho, o General Washington, agradece-los
pelo pagamento. O general pergunta:
“Espero que meus canhões
tenham funcionado bem”.
Database
responde:
- Eles
funcionaram. O templo da Bushido ficou em ruínas.
Sorrindo, o
general diz:
“Ótimo. Fico
feliz em saber que meu equipamento fez Tokugawa sofrer”.
- Os canhões não
te farão falta no futuro, general?
“Não” responde ele.
“Os samurais precisavam deste pequeno acerto de contas depois do que eles nos
fizeram há um ano. Estou muito satisfeito”.
- Agradeço sua
cooperação. Até a próxima.
“Até a próxima,
Database. Foi um prazer fazer negócios com você”.
Nathan se
felicita. O plano deu certo, os samurais caíram na armadilha. Utilizando o
equipamento dos americanos, eles secretamente instalaram canhões no território
da Bushido. Dirigindo viaturas roubadas e vestindo uniformes falsos, os runners
se vestiram de policiais, enganando-os perfeitamente. Obtendo o sucesso, os
samurais se aliaram ao Submundo, juntando-se à sua causa.
Database os
parabeniza. Animado, ele os oferece seu refinado uísque.
- Tiveram
problemas para convence-los? – pergunta ele.
- Não... – responde
Nathan, sarcasticamente – Eu quase perdi a cabeça, mas fora isso, foi tudo bem.
- Sabíamos do
risco. Como você mesmo disse, precisamos do apoio da Bushido. Sem eles, a
rebelião se prolongará.
- Eu quase fui
decapitado.
- Pensei que já
estivesse acostumado a arriscar sua vida... “Salvador de Sonata”. – diz ele,
referindo-se a sua irresponsável ida para a Cúpula Corporativa.
Vertigo comenta:
- Os samurais se
aliaram a nós. Com eles, agora poderemos montar uma melhor estratégia.
- Falando em
estratégia, como convenceu os Trans-humanistas a se aliarem a nós, Vertigo?
Confuso, o hacker
responde:
- Convencer? Eu
não os convenci, eles decidiram se aliar por si mesmos, Database.
- Simples assim?
O chefe não
acredita nele, não importa o que ele diga.
- Sim.
- Mesmo após a
explosão de uma bomba em seu território, destruindo o terraço inteiro de uma
megatorre, ainda assim eles decidiram se aliar a nós?
Desta vez, é
Vertigo quem desconfia.
- Foi você quem
detonou a bomba, Database?
- Não. – responde
ele – É claro que não. Os mecanicistas já têm inimigos o suficiente para fazer
isso.
Então a
desconfiança se torna mútua. O hacker então diz:
- Vocês querem
saber o que isso me parece? Que nessa teia de esquemas e favores, segredos e
mentiras, nos assemelhamos ao nosso inimigo. Que atrás dessa cortina de ideais
revolucionários e causas ideológicas, abandonamos nossos princípios e valores
pelo único objetivo de vencer. É claro, as corporações têm um plano hediondo,
mas nós também adotamos seus métodos, agindo da mesma maneira obscura e egoísta.
Entre nós mesmos tramamos conspirações, para ultimamente combater os
conspiradores.
As palavras de
Vertigo são verdadeiras e os fazem refletir. Entretanto, Nathan interrompe a reflexão
para dizer:
- Eu não me
importo quem conspire desde que a rebelião termine.
§
Após a reunião, Nathan
deixa o Submundo. Sentado em uma plataforma entre os prédios, ele bebe seu
refrigerante. As tubulações soltam vapor, deixando o ambiente úmido. As ruas lá
embaixo fazem barulho, irritando seus ouvidos. Aquela era mais uma noite típica
na superfície.
Ocupado em seus
pensamentos, ele ouve alguém se aproximar. Incomodado, ele não se dá ao
trabalho de virar sua cabeça para ver quem era. Naquele momento ele não queria
ver ninguém. Mas, para sua surpresa, não era qualquer pessoa que se aproximava.
- Laura...? – se
espanta ele.
Sentando-se ao
seu lado, a garota responde:
- Olá, Nathan.
De todos as
pessoas, dos níveis superiores à superfície, Laura era a última que ele
esperava receber pessoalmente.
- Laura... Por
que você está aqui?
- Não por um bom
motivo, eu devo dizer. – adianta-se ela.
- Você sabe que
eu estive te procurando por todo esse tempo, não é? Por que não respondeu às
minhas ligações? Por onde você esteve?
A garota sorri.
Em seu olhar ela diz: “você realmente acha que eu vou lhe dizer?”.
Mudando de
assunto, ela pergunta:
- O que ouvi
dizer sobre você é verdade?
Nathan se
confunde.
- O que,
exatamente?
- Quando esteve
com os Clérigos do Recomeço, você realmente cometeu um atentado terrorista?
Pego desprevenido,
o rapaz responde:
- Não! Não
verdade, eu não sei. Eu fui enganado, me persuadiram a participar.
- Está dizendo
que eles te persuadiram a participar de um atentado terrorista covarde, detonando uma
bomba em um hospital cheio de inocentes? – pergunta ela, acusando-o.
- Mais ou menos. Quero
dizer, não foi isso o que me disseram a princípio.
Mas quanto mais
Nathan se explicava, mais ele se complicava em suas respostas. Laura, porém,
era implacável em acusa-lo.
- Então te
disseram que você iria detonar uma bomba, mas não onde?
- Algo assim.
- Não consigo
acreditar que você fez isso, Nathan. Logo você, com seus discursos filantropos
e altruístas, cometendo um atentado terrorista?
- Eu já disse que
fui enganado! Eu não tinha a intenção de detonar nenhuma bomba.
- Tinha sim, você
só não sabia onde os clérigos a detonariam.
Então o rapaz se
cala. Laura continua:
- Até onde você está
disposto a ir para acabar com essa rebelião, Nathan? Você realmente quebrará
todas as regras para trazer a paz, adotando todas as táticas sujas das facções terroristas?
Irritando-se, o
rapaz responde:
- Espere um
pouco! Eu não sou nenhum terrorista imoral!
- Você traiu seus
valores e princípios. Na verdade, sua única conduta agora é aquela que o
ajudará a vencer a rebelião.
Nathan estava se
cansando. Não foi daquele jeito que ele esperava reencontrar Laura. Entretanto,
apesar de todos os acontecimentos, o rapaz ainda justificava-se em prol da salvação
de Sonata. Ele se defende dizendo:
- Mas, antes de
mim, você se aliou à Resistência Purista também. Na verdade, achei muito
suspeito uma bomba explodir no território dos mecanicistas após eles
sequestrarem o Vertigo.
Insinuando que
Laura tivesse algo a ver com aquilo, ela responde:
- Por acaso está
insinuando que eu explodi uma bomba no território dos mecanicistas?
- Você se aliou
aos puristas para salvar seu amigo, lembra-se? E após o sequestro de Vertigo, você
falhou ao encontra-lo. E de repente uma bomba se explode no território de seus
arqui-inimigos. Eu disse que achei isso muito suspeito, não a acusei de nada. Isso
quem faz é você.
Então Laura se
irrita também.
- Você é muito
patético se pensa que vai me enganar com suas suposições, Nathan. Você é irresponsável
em tudo o que você faz. Primeiro o Vertigo é sequestrado, depois você comete um
atentado terrorista e agora você retorna de uma incursão suicida na Cúpula
Corporativa no meio de uma manifestação. Eu tenho pena de você.
O rapaz retruca:
- Tenha de si
mesma com sua limitadíssima visão sobre tudo. Além de você, o Vertigo também fez
uma aliança obscura com os facciosos. Vá lá e pergunte para ele como ele
conseguiu convencer os Trans-humanistas a se aliarem a nós depois de terem sua
base invadida e seu território explodido. Duvido que ele vá responder.
Agora Nathan insinua
desconfiar de Vertigo. Sem querer admitir, ela compartilha dessa sensação também.
Após um minuto de
desconforto e silêncio, a garota finalmente pergunta:
- Você detonou
aquela bomba sim ou não?
Pesaroso, o rapaz
responde:
- Sim.
- Isso era tudo o
que eu queria ouvir.
Laura então se
vira e vai embora. Nathan não vai atrás dela, ao invés ele diz:
- Eu fiz de tudo por
você, Laura. Me humilhei, me arrastei e até sangrei para você gostar de mim. Mas
você nunca me deu valor. – com lágrimas escorrendo em seu rosto, ele conclui –
Pode ir, fique em paz, não precisa se esconder dessa vez. Eu não irei mais em
sua casa procurar por você.
As palavras
machucam a garota, mas orgulhosa demais para se virar, ela continua
dolorosamente seu caminho. Nathan fica ali, sentado e chorando sozinho. Vendo a
lata de refrigerante ao seu lado, ela a joga furiosamente no beco abaixo, triste
e desanimado por ver sua vida se desmoronar.
Mas a garota,
escondida em uma plataforma mais adiante, olha para trás procurando por Nathan.
Ao vê-lo chorando à distância, lágrimas se escorrem em seu rosto também.
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