domingo, 10 de outubro de 2021

Nuvens de Enxofre


 

Minhas orações não eram respondidas

Minhas petições não eram atendidas

Meus esforços não eram recompensados

E diziam que era eu o errado

 

Me acusavam que minha fé estava fraca

Quando o silêncio era tudo o que eu escutava

Que eu murmurava na prova e no sofrimento

Que eu blasfemava por não interpretar o silêncio

 

Sempre atrasado ao abençoar

Mas sempre imediato ao me castigar

Sempre ausente enquanto eu vivia

Mas permitindo que me fizessem injustiças

 

Não eram blasfêmias o que eu falava

Era o estado que meu espírito se encontrava

 

Ele me abandonou

Ninguém me entende

Eu não o abandonei

Fui rejeitado por aquele que prometeu

Que estaria comigo até o último dia da minha vida

Que ficaria comigo até a consumação dos séculos

Que me acompanharia até o fim dos tempos

 

Feito de trouxa

Bem que meus inimigos me avisaram

Enquanto me ridicularizavam

Enquanto meus bolsos se esvaziavam

 

Feito de otário

Ficando mais pobre e sem nenhum centavo

Desperdicei minha vida com vãs privações

Aumentando ainda mais minhas tribulações

 

Abandonado por meu pai e mãe

E os demais porcos de minha família

Ignorado pela única pessoa que me ouvia

Que sabia que era a única que eu tinha para conversar

Posto de lado ao perder a utilidade

Manipulado por quem dizia me amar

 

Eles riram de mim

Uma humilhação sem fim

Fui constantemente injustiçado

O tempo todo sendo desprezado

 

Com minha patética face suína

Me perguntando por que minhas orações

Jamais eram respondidas

 

Mas tu nunca me abandonaste

Sempre se fez presente com seus desejos malignos

Suas sedutoras tentações

Suas flamejantes paixões

Os desejos de irresistível luxúria

Vontades pecaminosas e impuras

 

Tua chama que excita meu corpo a pecar

O único calor que a vida me dá

O fogo desafiante que não nega a natureza

Como um farol para os mortos por dentro de tanta tristeza

 

Prazer

Um pouco de prazer antes de morrer

Vou me perder nos corruptores vícios

Deixá-los me consumir até o último suspiro

 

Há muitas mulheres que me alucinam

Os entorpecentes que me contaminam

A sensação de alívio e bem-estar

A paz que o outro prometeu que ia me dar

 

Pois o cálice da ira eu quero beber

Se isso me devolver a vontade de viver

 

À beira do precipício eu vejo

As nuvens de enxofre em desespero

Medo, fogo e trevas lá embaixo

Então este é o inferno que tanto falavam

 

Sangue ainda se escorre de minha cabeça

E deixa minhas roupas vermelhas

Ainda ouço o estampido em meu ouvido

A bala que atravessou os meus tímpanos

 

Então tu aparece ao meu lado

Como a passagem do pináculo do templo

Vestido em um manto preto

E me diz

Aqui eu jamais irei te abandonar

Aqui poderás descansar

Lança-te abaixo ao meu reino

A casa do esquecimento

O teu novo lar

 

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