sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A Garota Das Ruínas



Ela veste um casaco longo e empoeirado
Minissaia rasgada e botas até o joelho
Seus cabelos são pretos, cortados até a altura dos ombros
Seus olhos são azuis, carentes de atenção
Seu corpo é esbelto e atlético
Tão sensual...

Ela sobe em um carro enferrujado na estrada
E com um pé no teto e outro no capô
Ela põe a mão na altura dos olhos, protegendo-se do sol
Olhando para o horizonte, ela respira fundo e sorri
E bem-humorada, indica o caminho a seguir
Tão menininha...

Ela gosta tanto de falar o que pensa
Ela gosta de expressar o que está em seu coração
Ela gosta tanto de me ouvir
Aprender com minhas palavras frias que não existe mais mundo bom
Quando ela me ouve ela me faz um olhar curioso
Como se precisasse muito de proteção
Tão frágil...

Ela me faz esquecer quem eu sou
Essa nova corja de gente que o novo mundo criou
Debaixo desse sol que nos esgota
E o suor que escorre nos deixando com odores horríveis
Não existem mais perfumes ou coisa desse tipo
Mas quando estou perto dela
Sinto apenas seus feromônios me deixando louco
Será que estou muito velho para o amor?
Será que eu sei o que é o amor?
Eu olho para esta garota e me perco em pensamentos bons
Mesmo eu não sendo nada de bom

E quanto a ela?
Ela é nova demais para o amor?
Será que alguém tão linda precisa do meu amor?
Nesse novo mundo ela me faz ter esperança
Coisa que eu tirei de muita gente

Mas e o que somos nós?
Capangas de capangas?
Mercenários em um mundo sem lei?
Facínoras que não apenas matam para viver
Mas também por prazer?

Ela não invade os prédios abandonados
Para caçar os doentes e viciados por diversão
Ela não diz palavrões e nunca se irrita
Nem se lamenta ou sente ódio quando pensa na vida
Tão equilibrada...

Ela chora quando eu mato
E sente compaixão de quem é fraco
Ela se assusta quando eu aponto a arma para alguém
E me implora para eu não matar mais ninguém
Tão compassiva...

Ela não gosta do sabor do álcool
E não se droga para suportar a dor como eu
Ela não suporta o cheiro do cigarro
E quando atiro nas pessoas ela não ri de quem morreu
Tão virtuosa...

Ela ignora o olhar maldoso dos homens
E que eles fortemente a desejam
Que eles poderiam possuí-la a força se quisessem
Mas diz que nisso eles não pensam
Tão inocente...

Ela fala de esperança
E quer recuperar o que foi perdido
Fala que os homens ainda são bons
E que o mundo será novamente um lugar bonito
Tão ingênua...

Ela está pensativa
Algo tirou o brilho de seu bom humor e levou seus sorrisos embora
Gostaria tanto de acariciar seu rosto
Mas minhas mãos calejadas
Cobertas de sangue e cheirando a pólvora
Só machucariam sua pele

Ela olha para mim e pergunta:
“Que futuro teremos se continuar agindo dessa maneira?”
“Que futuro terá o mundo se continuarmos pensando em nós mesmos?”
Sem perder minha postura de homem durão
E escondendo o amor crescente que sinto em meu coração
Eu respondo com semblante sério
Sem olhá-la nos olhos, me escondendo por dentro
“O futuro...”
“É Agora”


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