terça-feira, 7 de julho de 2015

A Rosa, A Voz e a Imaginação



[Trecho do meu futuro livro, nem eu sei que tema é]

Gunther caminha apressadamente. Ele não sabe mais o que é real ou mesmo se está dentro de alguma realidade. Na verdade, ele não sabe de mais nada. Algo estranho acontece com ele, um sentimento bom que bate forte em seu peito e o deixa extasiado, fazendo-o se esquecer de todo o tormento e desequilíbrio que castiga sua mente.
O rapaz caminha entre dimensões.
O amor é um sentimento forte e bonito, tão intenso que às vezes nos esquecemos da dor. Gunther se apaixonou por uma linda garota de cabelos castanhos e aparência delicada. Ela é modesta ao se vestir e nunca se produz mais do que o necessário. Ela usa óculos de aros finos e o rapaz observava como ela se esforçava para enxergar. Sempre que passava ela o cumprimentava com um sorriso amigável, deixando-o muito feliz. “Como ela é delicada!” pensava ele.
Até que um dia ele criou coragem e a chamou para conversar. A surpresa veio com um impacto enorme. Ela era muito mais amigável do que pensava, mas falava muitos palavrões! E quanto mais falava, mais palavrões saiam, e com muita naturalidade! A garota disse que tem um irmão mais velho, talvez isso explique seu jeito de desbocada. Crescer com a influência de um homem pode dar nisso. Gunther não se importa. Pelo menos ela não era rude ou antipática, e sempre o ouvia quando ele queria falar. Tímido como sempre, às vezes ela lhe dava mais atenção do que ele poderia suportar e isso o deixava muito acanhado.
O rapaz nunca entendeu como uma garota tão linda quanto ela aceitaria sua amizade, e foi aí que o sentimento cresceu e cresceu. Infelizmente Gunther era diferente e talvez os dois pudessem estar juntos se ele não fosse um paradoxo dimensional.
Então Gunther caminha com uma rosa em sua mão. Empolgado e extasiado pelo sentimento, ele não nota que o caule da rosa tem afiados espinhos. Sua mão esquerda a segura firmemente e os espinhos rasgam sua pele, perfurando através da palma de sua mão. O sangue escorre pela ferida, um sangue vermelho e quente tão diferente daqueles exibidos nos filmes. “O sangue...” ouve ele repetidamente em sua mente, e então as gotas caem pelo piso.
Ao ver a garota, ele estende seu braço e lhe oferece a flor.
- Pra você.
A reação foi enérgica e grotesca.
- Afaste isso de mim!
A garota ergue suas mãos e vira seu rosto, sentindo grande repulsão pela nojenta flor. Gunther, ainda com o braço esticado, não entende a reação de sua amada e se entristece, deixando o abatimento estampar em seu rosto.
Por fim a garota se vira e corre, assustada e irritada com a bizarra situação. O rapaz fica parado ali por um instante, sem reação ou emoção para encarar o momento. Então lágrimas escorrem de seus olhos, ficando triste e abatido ao ver a garota indo embora.
De volta ao seu apartamento, Gunther enche um copo d´água e então coloca a rejeitada flor. Aproximando-se da janela, a mesma janela que brilha com o neon vermelho durante a noite, ele o coloca no pequeno espaço do peitoril. Aquela nauseante mancha de sangue ainda está lá e escorre pelo vidro e pela parede.
Sentando-se em sua poltrona, ele acende um cigarro e pensa no ocorrido. De repente o telefone toca.
Ou não toca, não é mais possível dizer.
- Alô?
- Gunther, sou eu. E então? Deu a rosa para sua amada hoje? Como ela se chama? Anneliese...?
O rapaz reconhece a voz feminina no outro lado da linha.
- Me deixe em paz.
- O amor é um sentimento tão lindo, não acha? As pessoas perdem a razão, se encantam, se apaixonam, se iludem... Às vezes é tão forte que supera até a dor. E por falar nisso, como está a sua mão?
O rapaz se irrita.
- Quem é você, afinal?!
A voz no outro lado da linha se silencia. Gunther tem a impressão de ouvi-la sorrir.
- Você não devia fumar, Gunther. Isso te faz mal.
- Eu não me importo com o que você fala. Você nem é real. Talvez seja só uma voz ecoando dentro de minha cabeça.
- Tem certeza?
Então o rapaz se confunde.
Num impulso ele desliga o aparelho. Respirando fundo, ele enxuga o suor de sua testa e então fuma mais um pouco. Pegando novamente o telefone, ele checa o registro de chamadas e não encontra nenhuma ligação durante aqueles minutos. Ele se assusta, estaria ele ficando louco?
De repente seu celular vibra. Chegou nova mensagem.
Gunther, como uma âncora que segura um navio você vai precisar de mim para não se perder. Realidade, existência ou sonho, não existe consciência fora da dimensão. Você não tem como fugir, o quanto antes aceitar isso melhor.”
O rapaz treme. Em seguida chega outra mensagem.
“E então? Sobre o que você quer falar?”

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