quarta-feira, 24 de junho de 2015

Hyperdrive




Observando através da estreita janela
Nesta estação espacial em órbita da Terra
De corredores estreitos, baixa temperatura e gravidade zero
Olho para a superfície da Terra procurando você

Fico imaginando como você está neste momento
Provavelmente dirigindo seu aerocarro
Pelas vias virtuais indicadas no para-brisa
Através das numerosas e imensas megatorres
Por entre as movimentadas passarelas, acima e abaixo
Ofuscada pelos brilhantes painéis de neon
Conversando com seus amigos pelo telefone holográfico

Sem mais mentiras
Eu não vou mais me enganar assim
Você nunca me amou
Na verdade você nunca escondeu isso de mim

Eu largaria essa vida de astronauta
Para viver na populosa megalópole ao seu lado
Largaria meus mais valiosos sonhos
Para ter a mulher mais maravilhosa perto de mim

E que mulher você é!
Divertida, sorridente e simpática
Quando fala tudo torna-se tão lindo
Sua voz faz meu mundo parecer tão bom
Tudo o que é ruim desaparece com esse som
Mas você é tão independente
Tão distante, confiante e autossuficiente
É óbvio que não precisa de mim
Foi muita ingenuidade eu me apaixonar assim

Acho que nesse mundo tão tecnológico e futurista
Onde tudo é produção, consumo e energia
Não sobrou espaço para algo tão ultrapassado e antiquado
Como o amor

E nem me isolando na escuridão do espaço entre as estrelas
Onde me distraio pensando em você nesse planeta
Você não respondeu mais os emails meus
Esta é sua forma indiferente de dizer adeus

Tudo bem, eu já entendi
Te deixo à vontade para ir

Está se esgotando os recursos
E a humanidade está colonizando outros mundos
Talvez o amor seja um desses recursos extintos
E eu o reencontre em abundância em um planeta distinto

Com muita dor no peito eu assino a autorização
E partirei como voluntário na colonização
Talvez a milhares de anos-luz longe de você
Eu finalmente consiga te esquecer

Mas eu vou sofrer

À bordo dessa nave densamente tripulada
Prestes a acionar os propulsores hyperdrive
Eu olho para a Terra pela última vez
E com lágrima em meus olhos
E dor ardente em minha garganta
Abro minha boca com muito esforço
E amargamente digo adeus

Então a nave desaparece na velocidade da luz

Enquanto isso na Terra
Você está calmamente conversando com seus amigos
No topo da megatorre, bebendo álcool e se divertindo
Então você ouve minha voz me despedindo
Mas sem se interessar
Você vira as costas sem se importar
E ocupada demais para me dar atenção
Você simplesmente pensa: “Foi só minha impressão”

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Na Solidão Do Oceano



Os golfinhos são tão lindos
Em bandos eles nadam se divertindo
Acima e abaixo uns dos outros
Flutuando no mar caloroso

Mas nem todos estão felizes
Um deles está triste
E suas lágrimas se confundem com a água do oceano
E em seus cânticos ele parece estar chorando

Os outros estão sempre brincando
Nadando felizes e cantando
Os mais jovens estão namorando
Sobre as ondas eles estão saltando

As brincadeiras não mais o diverte
O acasalamento não mais o compele
Com mais nada ele se sente satisfeito
Devido à grande dor que sente por dentro

Afastando-se discretamente do bando
Sozinho ele nada pelo oceano
Mergulhando nas covas mais fundas
Escondendo-se nas profundezas escuras

Na superfície ele vê um barco chegando
O líder disse para ficar longe dos humanos
O golfinho não se importa mais com seus receios
Ele está cansado de viver com tanto medo

O golfinho ergue sua cabeça pedindo carinho
Por muito tempo ele esteve sozinho
Mas os humanos são cruéis e assassinos
E não ligam para os que estão depressivos

O golfinho debate-se bravamente
Levado para o barco preso numa rede
Os humanos espetam seu corpo com lanças
Enquanto sangra ele ouve o riso das crianças

Ele chora em lamento
Mas ninguém parece ouvir seu sofrimento
Enquanto os humanos dilaceram o seu corpo
Estranhamente ele sente conforto

Pendurado pela cauda
Sua carne é separada de sua alma
Então o alívio aparece de outra forma
O fardo da dor fica na carcaça morta

A dor é deixada para trás
A tristeza ele não sente mais
Na carne e no sangue estavam o buraco
O vazio que nunca pôde ser curado

O golfinho agora nada mais rápido e distante
Seu espírito brilha mais que o diamante
Em alegria ele canta euforicamente
Agora ele pode ser feliz finalmente

Então ele nada livremente pelo oceano
Exultando a felicidade em seus cânticos
A morte veio e o libertou de sua aflição
Nunca mais ele sentirá a depressão

No oceano das eternas correntes
Onde tudo muda constantemente
Seu espírito nada euforicamente
Para sempre