sábado, 6 de dezembro de 2014

A Carta de Suicídio




Estou há trinta anos na Polícia
E nesses trinta anos nunca vi nada parecido
Um lunático se atirou de uma ponte
Mas antes deixou uma carta de suicídio
E nessa carta dizia:

“Escrevo essa carta para vocês, ‘papai e mamãe’. Desejo de coração que vocês tenham uma doença terrível que os devorem por dentro e lhes causem muita dor. Que os debilitem e os deixem agonizando à beira da morte. E quando a agonia for forte demais para suportar, então vocês saberão a dor que por culpa de vocês eu senti”.

“Pai, você é o culpado por tudo, você é o culpado pelo o que me tornei. Verme. Tão ávido para sufocar meus talentos. Tão ávido para me calar. Nunca disposto a me ouvir, mas sempre disposto a falar e falar. Você me quis constrangido. Você me quis um covarde. Você me quis um medíocre. Você só quis me invejar”.

“Te odeio, te odeio mais que tudo. Te odeio por não me tratar como filho, mas me tratar como um rival. Um refém em seu cativeiro de merda. Te odeio por não deixar eu crescer, por ter medo que eu fosse melhor do que você. Teve inveja de mim. Teve inveja por eu ser jovem e bonito e você ser um velho burro e ridículo”.

“Mãe, você é um lixo. Você é menos que gente. Você é tudo o que não presta. Chamar minha mãe de prostituta seria uma ofensa para elas, porque até as prostitutas valem alguma coisa quando se vendem. Você me deixou sozinho. Você me deixou triste. Você não me deu carinho. Me usou para conseguir o que queria. Se aproveitou da carência que havia em mim. Você me rejeitou, me excluiu, me ofendeu e me destruiu. Rejeitou o amor que senti por você. E como todas as vezes em que eu tentei gostar de você, você me abandonou por que é isso o que você gosta de fazer”.

“Mulher esperta. Cobra traiçoeira. Você é uma mulher venenosa, cínica e manipuladora. Sei muito bem que você só quer dinheiro. Você só age por interesse, e interesse por mim você nunca teve. Espero que o seu Deus te perdoe, se é que você realmente acredita nele ou o usa para manipular outras pessoas também”.

“Então eu chego à beira da ponte. Quando chegar ao chão meu corpo será estraçalhado e serei mais uma carcaça úmida de sangue deixada para apodrecer ao sol. Quando isso acontecer vocês terão um motivo verdadeiro para ter nojo de mim. Então aproveitem. Cuspam em mim. Demonstrem todo seu desprezo por mim. Aproveitem enquanto ainda não estou enterrado”.

“Pai, talvez eu ainda esteja vivo quando você chegar aqui, então você poderá mijar em minha carcaça e fazer a urina causar mais ardência em minhas feridas. Pise em mim como se eu fosse excremento sob seus pés. Chame minha mãe. Traga meus irmãos também. Me pisoteiem. Chutem meu rosto, acabem com a beleza que havia em mim. Quebrem o restante dos meus ossos. Batam em mim com pauladas. Perfurem meu corpo com facadas. Pintem seus rostos com meu sangue. Arranquem minha pele. Mastiguem minha carne. Dentro de mim só há ódio e rancor, e minha aparência patética de quem nunca teve amor”.

“Adeus, pai. Te espero no inferno. Não se iluda, é o lugar para onde você vai. Estarei lá te esperando com seus pais”.

“Adeus, mãe. Te espero no inferno também. Por acaso pensa que você vai para o Céu quando você morrer? Estarei ao lado de Cristo quando ele te condenar. E quando o lago de fogo e enxofre se abrir, estarei com os demônios para te levar”.

Esta carta foi a coisa mais horrível que já li
O suicida devia odiar muito seus pais
Mas ao investigar sua identidade foi então que eu vi
O suicida era órfão

Criado desde criança num orfanato
A família que ele descreve jamais existiu
Ao se tornar adulto ele fugiu para morar na rua
E desde aquele dia ninguém mais o viu

Estou há trinta anos na Polícia
E nesses trinta anos nunca vi nada parecido
O mundo está ficando cada vez mais depressivo
E não sei se eu serei forte para suportar isso


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