sábado, 21 de março de 2015

O Chamado das Trevas




Eu gosto tanto de desenhar
Eu gosto tanto de escalar
Mas minha família não quer me ouvir
Eles não querem me ouvir falar

Meu pai me ridiculariza
Minha mãe só me humilha
Minhas tias não querem mais me ver
Minha avó disse que eu poderia morrer

E sem achar solução para essa dor que nunca some
Ouço cada vez mais a morte chamar meu nome

A angústia cresce em meu peito
A depressão me consome por dentro
Hoje é meu aniversário de dez anos
A única data em que eles fingem dizer “eu te amo”

A escuridão está triste pela minha vida
Por muito tempo a escuridão foi minha amiga
Uma sombra fala comigo no reflexo do espelho
Nos cantos escuros vejo seus olhos vermelhos

Eu me cansei de cobrar pelo amor que eles nunca dão
De minha família nunca recebi afeição
Mas agora sei o que devo fazer
A escuridão eu vou obedecer

Espero anoitecer para fazer
Deixo minha casa e pulo o muro sem me esconder
Eu escalo a lateral do prédio com agilidade
Gostaria tanto que eles vissem minha habilidade

Do terraço vejo a cidade no horizonte
As luzes brilham tanto durante a noite
As estrelas veem outra criança triste que não teve sorte
Esta noite elas testemunharão mais uma morte

Então eu me atiro do terraço
Durante a queda meu corpo parece mil vezes mais pesado
O impacto quebra meus ossos em milhares de pedaços
Meu sangue espirra, sujando as paredes ao lado

Sinto a dor insuportável em buracos na minha cabeça
Fraturas expostas deixam minha pele às avessas
Sangue inunda e borbulha em minha garganta
Gemidos de agonia da boca de uma criança

Então ela vem
A grande manifestação da escuridão
O portão das trevas é aberto
Os espíritos chegam cada vez mais perto

A mulher se eleva do chão
E gesticula me chamando com a mão
Atrás dela ouço milhares de vozes
Cada uma parece saber meu nome

Como se estivesse bem eu me levanto
Olho para trás e vejo meu corpo em espanto
Então o abatimento consome minha alma
Mas com voz amorosa ela vem e me acalma

De braços abertos a mulher me chama
Então eu corro e a abraço com força
Sua voz angelical me cura de toda dor em minha mente
E ela me leva para baixo onde ficaremos juntos para sempre

Minha mãe infernal

terça-feira, 3 de março de 2015

Não Quero Mais Viver




Não quero mais viver
Não quero mais sentir a angústia
Não quero mais passar pelo fracasso
Não quero outra tentativa para dar tudo errado

Não quero mais sofrer
Não quero mais passar pela vergonha
Pela dor infinita que cresce em meu peito
Pela dor infinita que me castiga por dentro

Ainda há uma última saída
Agora eu sei o que tenho que fazer

Caminho ao lado dessa rodovia
Com minha velha mochila nas costas
Ando apressado e então devagar
Com esses sapatos fazendo bolhas em meu calcanhar

Acabo de sair do trabalho
Com essas roupas gastas e em retalhos
Me esforcei o quanto pude, meu amor
Queria que se orgulhasse de mim e me desse valor

Me afasto dos carros rumo a algum lugar no mato
Subo os barrancos e vejo árvores ao meu lado
Vou o mais longe que eu posso, eu não quero mais voltar
Quero ficar em algum lugar onde ninguém possa me achar

Eu já não quero mais viver

Abro a mochila e pego minha arma
O aço frio pesa em minhas mãos
Tão pesada quanto minha consciência
Tão fria quanto meu coração 

Eu já desisti de viver

Me ajoelho e vejo a pista lá embaixo
Todos têm problemas, todos estão ocupados
Por que não posso sofrer e continuar seguindo em frente?
Por que sou tão fraco quanto uma criança carente?

Não sinto mais alegria em viver

Não escrevi cartas, não precisei disso
Todos conheciam meus problemas, eu já procurei abrigo
Procurei ajuda na medicina, no amor, na religião
Mas só encontrei mentiras, lutas e frustração

Já não suporto mais viver

Meu corpo cairá no chão, sem vida
E então eu serei alimento para as formigas
Meu sangue molhará o gramado verdejante
E finalmente estarei livre dessa vida excruciante

Aponto a arma para a lateral do meu crânio
Logo será meu fim, logo estará tudo bem
Respiro fundo pela última vez
E fecho os olhos, contando até três

[BANG!]